domingo, 19 de junho de 2022

O Corsário: realizando sonhos e criando novas expectativas.



 A EEDMO tem um papel essencial na minha profissionalização como bailarina e em muitos dos aprendizados éticos e morais que fazem parte da minha vida fora dos palcos. Me formei na turma de 2018 e, com muito prazer, foi também o ano de criação e primeiras atividades da Cia BEMO - TMRJ, cia. jovem que permitiu alguns dos meus primeiros contatos com montagens de repertórios clássicos completos como Giselle e Don Quixote.

Fazer parte da Cia BEMO -TMRJ e crescer nesse ambiente de ensinamento, trocas e desafios foi e ainda é importante no desenvolvimento da minha carreira, pois tive a oportunidade de estar em corpos de baile com diferentes estilos, além de trabalhar em papéis de solistas com maiores dificuldades técnicas e me levando a estudar personagens com características únicas. Por isso, sou grata ao Hélio Bejani e Jorge Texeira por confiarem em cada um de nós e nos levarem a diversos palcos desse país!


Estar em mais uma produção da nossa cia. jovem é a realização de objetivos pessoais, mas, mais que isso, é orgulho de ver o lugar que estamos conseguindo alcançar como companhia. É de muita felicidade ainda dividir os ensaios e o palco com meninas que se formaram comigo na Escola de Danças porque crescemos e acreditamos juntas, além de ser incrível poder estar presente com meninas que agora estão estreando e começando a trilhar seus próprios caminhos ao chegar nos anos técnicos da Escola.


 
O ballet “O Corsário” tem ensinado tanto sobre arte, estilo e história! É de uma felicidade enorme poder fazer parte da primeira montagem completa desse ballet com bailarinos brasileiros no Brasil e me sinto ainda mais realizada por estar no papel da Gulnara no palco do nosso Theatro, personagem essa que me ensina a importância de trabalhar para alcançar uma técnica firme e segura combinada a momentos artísticos diferentes e pontuais com a doçura e força apresentada por essa jovem escrava vendida ao Paxá no mercado da cidade.
Na expectativa do processo seletivo que acontece ainda nesse mês de junho para o corpo de baile do TMRJ, trabalhamos pelo melhor da cultura do estado e país, nos dedicando diariamente para trazer mais anos gloriosos a história do templo de arte do Rio de Janeiro.

Tabata Salles

terça-feira, 17 de maio de 2022

Corpos negros na dança clássica

 

Consuelo Rios

Entende-se que o ballet está imerso por uma concepção de beleza relacionada a um modelo de corpo e a um comportamento associado à técnica clássica. Ultrapassar os limites do estereótipo é fundamental para valorizar e democratizar a dança a todos os corpos, raças, gêneros que desejam fazer parte dessa forma de expressão tão linda, porém preconceituosa. É importante questionar onde estão as bailarinas negras e atentar-se que a presença ou ausência delas nos palcos é uma construção histórica, cujos resquícios se perpetuam na contemporaneidade. Para almejar determinado lugar é necessário se ver representado. Qual seria a importância de uma professora de ballet negra? A busca por referências, especificamente no ballet clássico, é uma maneira de dar visibilidade e protagonismo a essas artistas, como também entender que apresentar novas expectativas é primordial para contribuir com a construção de novos paradigmas.

Assim, buscamos tematizar sobre como o corpo feminino negro foi excluído e apagado das práticas promovidas por instituições dessa modalidade da dança que, operando saberes e poderes privilegiou corpos normatizados brancos, criando um estereótipo de

Bailarina “perfeita”.

 

Representatividade negra no Ballet Clássico

Atualmente, a visão que se tem da bailarina ainda é uma visão idealizada, do período romântico, como um ser perfeito, fragilizado, intocável, jovem, bela, magra e delicada. Esse corpo não só é imaginado pelo senso comum, mas também perpetuado por professores de ballet que orientam suas alunas, disciplinando-as para permanecer de acordo com esse estereótipo. Percebe-se que a busca pelo perfil da bailarina, composto por corpos de origem europeia e de olhos claros, é contraditório ao se ter como realidade o Brasil, com a maioria da população sendo negra.

Nesse contexto, há ausência de personagens negras protagonistas. São muitas histórias documentadas e registradas e nenhuma delas traz consigo um protagonismo negro. A grande parte dos contos nos quais os balés de repertório se baseiam são de escritores brancos e de momentos históricos em que as histórias são contadas pela ótica de uma população burguesa em ascensão. Entre as histórias estão: O lago dos cisnes, o Quebra nozes, Dom Quixote, Coppélia, em nenhum desses uma menina negra se apresenta como protagonista.

A imagem estereotipada que se desenvolve ao que se acredita que deve ser um bailarino, exclui meninas e meninos interessados na técnica clássica, mas que não se veem representados por serem fora do padrão.

Os bailarinos negros são inúmeros, extremamente capazes, mas o racismo ainda dificulta o acesso dos mesmos aos espaços da cena profissional e isso se torna visível na presença de poucos bailarinos negros em grupos profissionais. Com isso devemos não ignorar essa realidade, mas abrir um olhar para esse cenário de forma reflexiva.

A companhia Dance Theatre of Harlem com uma proposta originada e dirigida por Arthur Mitchell, tem como protagonistas bailarinas negras e negros. Em seus repertórios, eles são os principais e a companhia ressignificou diversas remontagens de balés de repertório com os personagens sendo negros, servindo como exemplo para o protagonismo afro descendente nesse cenário.

Arthur Mitchell

Jovens negros deveriam acessar o ensino de balé clássico, que lembre que eles existam e os vejam como possíveis profissionais, possibilitando um futuro artístico que possa ser traçado pelos mesmos. O sonho se torna possível quando ele é imaginado. O que não se pode esquecer é um legado de bailarinas negras brasileiras que marcaram o mundo da dança por suas pesquisas e sua expressão em cena. Grande parte delas ainda não possui o reconhecimento que merecem, mas, a partir do momento em que elas são citadas, a história delas permanecem vivas.

Independentemente do talento, da vocação, das habilidades físicas, uma bailarina não pode sonhar com o mais alto posto da maior companhia de dança clássica do seu país por causa da cor da sua pele e isso é preocupante

 

Referências Negras
Elas abriram caminhos para outras bailarinas que hoje conseguem uma notoriedade que suas antepassadas nem sempre conseguiram:

         Consuelo Rios: se tornou uma das principais professoras de ballet do País, Consuelo foi tentar concorrer às vagas do Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, mas não foi sequer aceita para fazer a prova, apesar da sua excelente técnica clássica, pelo simples fato de ser negra. Consuelo, então, não entrou no corpo de baile do Municipal, mas decidiu estudar muito para se tornar uma boa professora. Mais do que isso: se tornou uma das principais e melhores professoras de ballet que o nosso País já teve e por suas mãos passaram gerações de primeiras bailarinas e de bailarinas do Municipal e do exterior.

         Mercedes Baptista: Foi a primeira negra a fazer parte do Corpo de baile do TMRJ. Por ser aluna da escola não pode ser impossibilitada de fazer a prova, portanto a fez e passou. Para ela, infelizmente, entrar no corpo de baile não iria significar se tornar uma bailarina atuante nos palcos. De fato, ela não foi tão atuante assim. Só participou de ballets nacionais pelo TMRJ e nunca de ballets de repertório. Dança, para ela, só as aulas da escola.



 

Outros nomes importantes:

         Katherine Dunham

         Arthur Mitchell

         Misty Copeland

         Precious Adams

         Janet Collins

          Raven Wilkinson

         Lauren Anderson

         Céline Glitens

         Michaela DePrince

         Bethania Gomes

         Bruno Rocha


     Gabriela Branco, Esther Verta e Tálita Vitória (Formandas 2022)



quinta-feira, 21 de abril de 2022

“Entrei para a galeria de formados pela EEDMO”

 “Entrei para a galeria de formados pela EEDMO”


Ser formado pela Escola Estadual de Danças Maria Olenewa vai muito além de receber um diploma ao final dos longos 9 anos de formação. É ter a honra de carregar o nome da escola onde grandes artistas passaram e trilharam caminhos de sucesso. Junto com o diploma, está inserida toda a bagagem cultural, disciplina, responsabilidade e outros valores que são adquiridos no decorrer da formação. Todo o aprendizado conquistado na escola é levado para a vida, independente do caminho que os alunos escolham seguir.

Grandes nomes que compõe o quadro de formados da escola, hoje brilham no  mundo a fora, tais como: Roberta Marquez (primeira bailarina do Royal Ballet), Cícero Gomes (primeiro bailarino do Theatro Municipal do Rio de Janeiro), Marcia Haydeé (que foi a grande estrela do Stuttgart Ballet), Isabel Seabra (primeira bailarina do Teatro Scala de Milão), entre muitos outros. Pelo Brasil também há muitos nomes que passaram pela EEDMO e seguem brilhando em todo o país, especialmente no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Alguns deles são: Claudia Mota (1990), Deborah Ribeiro (1993), Rachel Ribeiro (1994), Priscila Mota (2000), Carla Carolina (2007), Juliana Valadão (2007) e Liana Vasconcelos (2008). Vale ressaltar também os ícones Márcia Jaqueline, que aos 14 anos começou a estagiar no TMRJ, sendo contratada aos 17; e Nora Esteves, que se formou pela escola em 1963 e foi promovida a primeira bailarina com apenas 17 anos.

Todavia, a escola não forma apenas bailarinos, forma artistas que seguem fazendo sucesso nas diversas áreas em que atuam. As atrizes Bibi Ferreira, Eva Tudor, Marília Pêra, Ângela Vieira, Danielle Suzuki e o carnavalesco Joãozinho Trinta também foram alunos da instituição. 

La Barre - Formandas EEDMO 2021

Ao se formar na Maria Olenewa, concretizamos uma das etapas mais importantes de nossas vidas, e damos início a um novo ciclo repleto de transformações e aprendizados, carregando sempre toda experiência adquirida ao longo dos anos de estudante. Sentimos a honra e a responsabilidade que é tornar-se ex-aluna de uma das mais importantes escolas de dança clássica no país; e entrar para o quadro de formados, tendo o nome ao lado de grandes ícones da dança e da arte é um enorme privilégio que ficará marcado para sempre em nossa história.

                                                          
Na foto, a primeira artista do Royal Ballet formada pela EEDMO, Letícia Stock.

Na foto, a primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Márcia Jaqueline.


















Giuliana Teixeira – 3º técnico
Lorena Nery – 3º técnico
Sarah Gomes – 3º técnico

quinta-feira, 7 de abril de 2022

FORMANDAS NO ANO EM QUE A ESCOLA COMPLETA 95 ANOS✨


Em 1927 foi fundada a Escola de Danças Clássicas do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, atual Escola Estadual de Dança Maria Olenewa (EEDMO), carregando o nome de sua fundadora. Neste ano, completam-se 95 anos de história da mais antiga e tradicional escola de formação em ballet clássico do Brasil, rumo ao seu centenário.

Desde sua abertura, com intuito de formar bailarinos para integrarem o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, a EEDMO contou com profissionais de alta competência em seu corpo docente. Estes formaram e formam técnica e artisticamente outros profissionais que seguiram e seguirão transmitindo o conhecimento adquirido, assim os mestres de hoje ligam seus alunos também aos ensinamentos de seus antigos mestres, preservando a memória da instituição. Ter esse contato com a memória de Maria Olenewa, por meio dos ensinamentos que os atuais docentes da Escola de Dança nos transmitem, é uma forma de resistir com a história do ballet e com o sonho dela de formar artistas bailarinos. Segundo Clarice Lispector “a felicidade aparece para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam em nossa vida”, e nós, como formandas dessa escola, reconhecemos e somos gratas pelos mestres e funcionários que tornaram anos de aprendizagem possíveis. 


A Escola de Dança é responsável pela formação de grandes nomes da dança brasileira, - sejam eles bailarinos, docentes, coreógrafos, historiadores da dança - mas além disso, de pessoas interessadas pela cultura de nosso país. Todos que pela Escola de Dança passaram e passarão são privilegiados de ter esse contato direto e indireto com figuras importantes da cena do ballet clássico. 


Ser formanda da EEDMO é sem dúvida gratificante e integrar este quadro de profissionais formados será uma conquista de extrema alegria. Não importa com que idade se ingressou na escola, os olhos brilharam na primeira aula como aluna assim como brilharão na última, o coração sorriu ao pisar a primeira vez no palco do Theatro Municipal assim como sorrirá quando dançarmos La Barre. Tamanha a importância dessa escola na realização de sonhos. Tamanha a importância dessa escola na história da arte e da dança brasileira.


La Barre - 2019

Nós, formandos de 2022, fazemos parte desses 95 anos de história e isso demandou e demanda comprometimento, disciplina e maturidade, já que temos responsabilidade de fazer jus a mesma. Temos responsabilidade inclusive de dar exemplo aos próximos formandos, através de disciplina, dedicação e amor. É necessário pensar em amor: amor pela arte, amor pela história que nos antecede, amor pelas experiências que vivemos. Vivenciamos um período pandêmico, limitado, em que a escola teve que se adaptar ao novo panorama mundial e seguir protocolos. A presença física se tornou impossível, a carga horária reduzida e o contato virtual e, ainda assim, podemos afirmar que não faltou amor. Nossos mestres nos ampararam com ensinamentos, compreensão, carinho. Nessa trajetória de formação, tivemos e temos desafios, mas o compartilhamento com nossos mestres e colegas de turma torna o esforço e a luta diária possíveis. Vibramos juntos e comemoramos as conquistas. 

Formandos 2022

Celebramos esses 95 anos com a afirmação de que carregaremos os ensinamentos conosco, em nossas memórias, corpos e corações, respeitando e honrando o legado da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa e de nossos mestres. Nossa eterna reverência! O futuro nos espera com toda a incerteza e esperança de algo grandioso. Que seja doce! 

BIBLIOGRAFIA: Escola Estadual de Dança Maria Olenewa 94 anos [recurso eletrônico]: professores que construíram a nossa história / Paulo Melgaço da Silva Júnior, Miguel Alves de Andrade (Org.). – Rio de Janeiro: AMADANÇA, 2021.


Texto: Barbara Ricciotti, Gabriela Mendes e Maria Eduarda Guerra (Formandas 2022)

domingo, 25 de abril de 2021

EEDMO 94 anos homenagem aos professores ✨

 Nossos professores, nossas histórias.



     O que é um professor? Alguém que de tanto dividir saberes acaba por multiplicar. Alguém que abre caminhos, que dá asas e auxilia o vôo, que inspira sonhos e motiva a ação. São os que iluminam o futuro, o profissional que forma todas as outras profissões, e que para além disso, forma seres humanos. Professor, mediador, a ponte entre os alunos e o saber, este que educa, mas que também instiga o pensamento crítico e ajuda cada um a aflorar o que há de melhor em si.

     Os professores da Escola de Dança se colocam em tudo que fazem, eles estão por trás dos detalhes das aulas que nos dão dia após dia, por trás da metodologia escolhida, do tato em perceber como uma turma reage a mesma e da forma de corrigir. Por trás do "Estica o pé!" de sempre, por exemplo, existe uma pessoa diferente, cada uma com sua forma única de falar, de explicar, de cobrar, de deixar sua marca em nossas vidas. Por trás de cada professor, um ser humano, cada qual com sua bagagem deixa rastros pelos caminhos que traçam nesse mundo, pegadas. 

     Que profissão extraordinária! Precisamos aprender a dar a devida importância que ela merece! Citarei Paulo Freire, “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”. Uma profissão que muitas das vezes ultrapassa os limites das quatro paredes de uma sala de aula e que nos ensina coisas que levamos para a vida além da profissão. Tem o professor que cuida do saber mas que também cuida das pessoas que o vão carregar, que por vezes acolhe como mãe/pai, incentiva, aconselha e dá o exemplo. Por mais que, nós alunos, deixemos de acreditar em nós mesmos, nossos professores ainda nos olham com a esperança de quem olha uma semente que dará frutos, como quem olha uma obra prima, um raio de sol em meio às nuvens num dia nublado.

     Aos nossos queridos professores da Escola de Dança, saibam que nós os olhamos de volta com muito respeito e admiração, vocês são presentes em nossas vidas, no sentido ambíguo da palavra. Notamos e apreciamos o cuidado de vocês conosco e não sei se existem palavras suficientes para retribuir este carinho. Particularmente, agradeço de todo o coração por me ensinarem o respeito pelas artes, não só pela dança, pois um espetáculo é a junção de todas elas, por me ensinarem a procurar conhecer uma música como quem procura o autoconhecimento, a tratar meu eu com carinho independente dos desafios propostos, a crescer buscando sair da zona de conforto, a importância de trabalhar com ética, disciplina, com o corpo e com a alma, e que conhecimento nunca é demais.


     A vida é um instante, o tempo passa, porém, também fica. Alguns dos nossos mestres se vão, mas eles nunca se vão de verdade, bom, não totalmente. Eles são perpetuados por essas marcas que deixaram por onde passaram, pelo conhecimento que compartilharam, pela forma que nos tocaram, pelas histórias que iremos contar sobre eles. Eles vivem nessa transformação desencadeada por terem suas histórias esbarradas nas nossas, eles vivem dentro de nós, são parte de nós, nós nesse emaranhado que é a vida. Professores são revolucionários! Nossa eterna reverência aos que já se foram e deixaram seu legado nesse mundo e nessa instituição e aos que ainda estão presentes nos impulsionando, principalmente nesse período tão difícil que estamos vivendo de pandemia! Gratidão por simplesmente existirem!


TEXTO: Victoria Veríssimo - Formanda 2021

sábado, 4 de abril de 2020

Isolados mas não parados


A crise pandêmica do coronavírus impôs uma parada brusca nas nossas atividades não essenciais, aliada a um isolamento social com a finalidade de frear o avanço nos números de contaminações. Tal medida evitará, segundo especialistas, o colapso do sistema de saúde como tristemente ocorreu na Itália. E como a crise chegou a pouco no Brasil, o isolamento tem prazo indeterminado, mas com estimativas que somam semanas e possivelmente meses.

Nós bailarinos conhecemos bem os efeitos da interrupção da rotina de treinamento, seja ela motivada por uma lesão, férias ou, nesse caso, sem antecedentes recentes, uma pandemia. Essa interrupção no treinamento é conhecida na literatura como DESTREINAMENTO, e seus efeitos na fisiologia de atletas de alto rendimento vêm sendo estudados amplamente no campo da ciência (e nessa classificação incluímos os praticantes de ballet clássico profissional ou profissionalizante, por mera analogia, resguardando todas diferenças claras entre atletas e bailarinos).

Já sabemos que o destreinamento pode ser prescrito como forma terapêutica, a fim de diminuir estresses nos sistemas após um longo e intenso período de atividade física e ainda, que sua duração pode variar para cada modalidade e objetivo. Um corredor, por exemplo, após participar de uma maratona, tem como indicação a suspensão de suas atividades por pelo menos 7 dias. Bailarinos ao finalizarem uma longa temporada de espetáculos também recebem a mesma indicação, resguardando suas características e práticas desencadeadas.

Em um período curto de destreinamento, as “perdas” dos desempenhos cardiovasculares e neuromusculares são pequenas e facilmente reconquistadas, ao passo que o descanso e recuperação do sistema musculoesquelético (músculos, tendões, ligamentos, articulações, e ossos), que estava sobre forte estresse no período de treino e atividade, são valiosíssimos para a manutenção da saúde do indivíduo. Pesando na balança: há mais benefícios que perdas.

Nos períodos de férias paramos por um tempo mais prolongado (4 a 6 semanas). Sabemos também, que o mais indicado para esse momento é o que chamamos de DESCANSO ATIVO com modalidades de baixa intensidade, talvez em dias alternados, e que minimizem a redução das capacidades adquiridas durante o treinamento.

Atualmente, nossa problemática é que não sabemos quando poderemos voltar com nossas atividades normais e corriqueiras, e, portanto não podemos nos dar ao luxo de apenas esperarmos parados. A ciência atual já identifica que um período de 21 dias de destreinamento já é suficiente para registrarmos uma queda de 14% no débito cardíaco (que significa o volume de sangue oxigenado bombeado por minuto para seu corpo), redução de força (que pode ser expressa também pela diminuição de fibras musculares, sobretudo as do tipo I, tão importantes nos exercícios sustentados e de longa duração como os de equilíbrio), perda de alongamento adquirido (>10%), além de outras perdas e reduções que irão impactar diretamente no desempenho profissional. 


O que fazer então nesses tempos de confinamento social?

A resposta parece vir quase que intuitivamente: NÃO PARAR!


Mesmo em casa, podemos aproveitar o tempo livre para montar uma rotina que, não só nos ajude na manutenção do nosso condicionamento físico e na consequente redução de rendimento, como também nos permita passar por esse período de isolamento de maneira mais serena, evitando a ansiedade e a depressão (companheiras da solidão e do sedentarismo). Além de cuidar com mais atenção da nossa alimentação (evitando ultra processados e preferindo alimentos frescos), beber bastante líquido e ficar exposto ao sol, na ajuda da produção de vitamina D e na consequente densidade ósssea, devemos incluir a prática de exercícios em casa. Mas, que tipo de exercício devemos priorizar?

Os melhores exercícios nesse momento são os que promovam a conservação do seu estado físico adquirido antes da pausa. Além disso, para que você consiga manter a prática mesmo na ausência do diretor ou professor a te supervisionar e estimular, você precisa sentir prazer em se movimentar, então é importante priorizar atividades que lhe sejam agradáveis. Para bailarinos, manter uma rotina de alongamento, exercícios de força dando ênfase nos movimentos sustentados por um pouco mais de tempo, exercícios aeróbicos que aumentem sua frequência cardíaca e respiratória como: abdominais com intervalos curtos, caminhada na esteira, pular corda, são os mais importantes. Lembrando que os movimentos devem ser os mais próximos da prática anterior, então as aulas de barra e chão continuam sendo ótimas opções. Um cuidado que se deve ter é com os saltos e as sapatilhas de pontas, para evitar entorses e impactos que possam gerar lesões. Consideramos que neste momento esse não seria o melhor tipo de conduta a ser realizada, já que não encontramos em nossas casas um ambiente seguro para essa prática. Nas salas profissionais de dança, o piso é específico para absorver impacto, revestido de tapetes que evitam que as sapatilhas derrapem, e por isso esses exercícios devem ser evitados no contexto domiciliar, ou realizados com extremo cuidado e somente por bailarinos com muita perícia.

A pandemia nos impôs um destreinamento não programado. A exposição dos dados aqui citados tem como objetivo informar sobre os mais variados efeitos do destreinamento sobre os múltiplos sistemas corporais, de modo a incentivar de maneira circunspecta a busca por formas de minimizar os efeitos maléficos em potencial, concomitantemente a manutenção do bem-estar e a um retorno seguro e saudável dos bailarinos a rotina de trabalho, quando a crise for superada. Em breve ocuparemos novamente os palcos, que para todos os artistas, é a nossa segunda casa.

Vamos dar esse grande salto em relação à nossa saúde e cuidar de nosso corpo e mente.





Autores: Luan Limoeiro e Clara Judithe (Formados pela EEDMO e graduandos em Fisioterapia UFRJ)

Consultoria técnica: Dr. Fernando Zikan (Professor EDDMO e do Departamento de Fisioterapia UFRJ)

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

VOLTA ÀS AULAS✨


Nesta segunda-feira, 10/02, a EEDMO encerra o seu período de férias e, com toda força, dá início ao ano letivo de 2020.
Nossos professores e demais funcionários aguardam ansiosamente para recepcionar seus novos e antigos alunos.
Desejamos boas-vindas aos mais novos integrantes da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa e esperamos que o restante tenha renovado as suas energias durante as férias. E que estejam todos prontos para um ano de muito trabalho e dedicação, pois queremos que 2020 seja repleto de realizações.
Bom retorno!


Texto: Marina Tessarin (Formada - 2019)

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019








Maria Olenewa deve estar radiante....
Seu sonho de criar uma Escola de Dança para ser o celeiro de artistas para o Corpo de Baile está mais vivo do que nunca nesta temporada de Giselle do TMRJ.







                   Foto: Hélio Bejani 





Na foto alunas formadas e  formandas: Deborah Ribeiro (1993), Carla Carolina (2007), Samantha Monteiro (2007), Juliana Valadão (2007), Aloani Bastos (2007), Liana Vasconcelos (2008), Marcelli Tatagiba (2017) Tabata Salles (2018), Clara Judithe (2018) , Diovana Piredda (2018), Fernanda Lima (2018), Marcella Borges (2018), Olívia Zucarino (2018), Luana Macedo (2019), Mariana Marques (2019), Marina Tessarin (2019). E as formandas: Giovanna Amaral (2020), Danielle Marinho (2020). E as futuras formandas: Ana Flávia Alvim (2021), Pamela Philigret (2021).  

E na temporada também estiveram presente outros alunos formados pela Escola de Dança como: nossa primeira bailarina Claudia Mota (1990), Tereza Ubirajara (1970), Nina Rita Farah (1978), Regina Ribeiro (1986), Mônica Barbosa (1989), Raquel Ribeiro (1994), Melissa Oliveira (1995), Priscilla Mota (2000).

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

   


                  Entrevista com Juliana Valadão




                    Foto: (Carol Lancelotti) 




1)Você se formou pela EEDMO. Como foi a trajetória até aqui?

Sou de Arraial do Cabo, vim pro Rio aos 16 anos. Comecei o ballet com 11 e fiz prova pra Escola de Danças no primeiro técnico. Na época, a diretora Maria Luísa me falou para fazer aulas em duas turmas (obviamente eu era fraca), tanto no primeiro técnico quanto no terceiro médio. Eu optei por voltar um ano e ficar só no terceiro médio. Isso foi em 2004. Me formei em 2007. E desde 2006 comecei a fazer alguns ballets com a CBTM, participando de algumas temporadas. Nesse período o TM fechou para obras. Até que em 2008, um ano após me formar, comecei a participar das temporadas como bailarina contratada. Viajei, fiz algumas aulas fora e depois voltei pro TM. Em 2010 fiz minha primeira audição pro contrato de 5 anos. Passei, e ainda contratada fui promovida a segunda solista. Em 2014 houve audição do concurso, passei mais uma vez. Ano passado, 2018, fui promovida a primeira solista mas já havia feito solos deste cargo anteriormente.



2) Qual o sentimento de estar em cena na atual temporada de "Giselle" interpretando pela primeira vez o primeiro papel de um ballet pelo BTM?

Fiquei muito surpreendida quando soube que faria Giselle. Fiquei muito feliz obviamente, mas também tensa porque é um papel difícil. Esse lado artístico que a Giselle tem, o fato de ser um ballet completo (o que eu nunca havia feito), a dificuldade da cena da loucura, e o estilo do ballet... Imagina fazer Giselle sem estilo nenhum ? Então, isso me preocupou muito, fiquei muito tensa. Mas apesar de tudo, muito feliz. Foi realmente um presente.



         
                    Foto: (Formatura 2007)




3) Você já havia participado de outras montagens de "Giselle" interpretando outros papéis? Qual você sente ser a diferença agora?

A Primeira vez que dancei Giselle foi em 2008, no meu primeiro ano de contratada, era uma das primeiras montagens daquele ano, lembro perfeitamente. E eu sempre falei " Giselle é um dos meus ballets da vida". Eu amava fazer, o corpo de baile é uma coisa arrepiante, gostava muito. Claro que agora, tendo um papel de destaque você fica mais preocupada. Porque o corpo de baile é muito importante, quem faz sabe como é tenso fazer tudo junto, na fila... Mas no papel de destaque você meio que costura a história. Por isso, ainda se tem outra preocupação, que é a de pegar um público leigo que não entende de ballet e fazer com que ele entenda a história do início ao fim. O que é difícil, mas muito gratificante. Além do processo de ensaio, que em geral, foi uma descoberta pra mim.
                        
                      Foto: (Carol Lancelotti)            



                                                  
4) "Giselle" é um março pro ballet clássico, representando o auge do período romântico. Como foi interpretar essa personagem e o que ela representou pra você?

Eu estou apaixonada por Giselle, é legal esse processo, essa descoberta. Porque leva a gente a descobrir coisas em nós mesmos. Eu descobri coisas em mim e aprendi muito. Eu não tenho palavra a dizer a não ser que Giselle foi pra mim um grande presente. Ter tido Giselle ccomo primeiro papel foi preocupante, mas também maravilhoso. Está sendo realmente muito maravilhoso pra mim. Um crescimento muito grande como bailarina e como pessoa.



5) Qual conselhos e dicas você deixa pra atual geração de bailarinos da Escola de Danças, dos recém formados a todos àqueles em processo de formação?

Acho que o conselho é: não percam tempo, porque o tempo realmente passa muito rápido. Façam muita aula, assistam muito ballet, vejam muita arte por aí. E se isso é realmente o que faz o coração vibrar, e te faz feliz ali naquele momento (que é como me sinto quando entro). Se é esse o sentimento que te preenche e faz transbordar alegria, não dá pra desistir. Tem coisas pelo caminho que a gente passa, nem tudo são mil maravilhas. Já fui contratada, "descontratada" e recontratada, passei por momentos ruins na minha vida, alguns anos difíceis na minha carreira... Mas se é isso, não desistam.






                      Foto: (Carol Lancelotti)                     


   
                                                                               Texto: Clara Judithe e Marina Tessarin

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Entrevista com a ex-primeira bailarina do BTMRJ Cristina Martinelli✨

Cristina Martinelli

Formada pela Escola de Danças Clássicas do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e ex-primeira-bailarina do Theatro Municipal, além de uma ampla e sólida carreira internacional, Cristina Martinelli será uma das homenageadas no aniversário de 110 anos do Theatro Municipal. A bailarina dotada de grande potencial dramático, além de ter se tornado primeira bailarina aos 22 anos, foi uma das artistas preferidas de Oscar Araiz com quem trabalhou em Buenos Aires, no Teatro San Martin. Não só exerceu o cargo de primeira bailarina no TMRJ, como também no Ballet Nacional da Espanha e no Grand Théâtre de Génève na Suíça. Seu repertório é extremamente vasto, abrangendo uma versatilidade de obras que vão de clássicos como “Lago dos Cisnes”, “Giselle” e “Paquita”, até neoclássicos como “Adaggieto” (uma de suas mais famosas interpretações) e várias obras de Maurice Bejárt.

Em uma entrevista para o Tour en L’air pudemos conhecer um pouco mais sobre Cristina Martinelli e sua vivência:

1 – Qual você acredita que tenha sido o impacto da Escola de Danças Clássicas do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, atual EEDMO, na sua vida?
Os 9 anos que passei na escola de danças são tudo que eu aprendi. Desde a própria estrutura da dança clássica, até todas as outras matérias que eu tive contato. Teoria musical, por exemplo, me serviu para que, como bailarina, eu pudesse encarar uma partitura. Outro exemplo foi de quando eu fui fazer a minha prova para primeira-bailarina, pois um dia era dedicado às danças folclóricas. Tudo que eu aprendi na escola fez parte do futuro e fez toda diferença, porque se eu não tivesse feito na escola eu não teria tido acesso.

2- Conte um pouco da sua experiência na EEDMO:
As coisas que eu guardo são as melhores possíveis. Na minha época não formávamos grupos de amigas como hoje, mesmo assim o contato era muito saudável com todo mundo. Mas eu gostava mesmo era dos meus professores, das minhas aulas, dos progressos, das conquistas. A diretora da época era Madeleine Rosay, então eu também estudei com a Lydia Costallat, Rene Wells, Consuelo Rios, Iara Marília, Reginaldo Vaz, Tamara Capeller e Cecília Wainstock. Foi assim, cada ano um professor, um aprendizado. Eu lembro de todos eles, uma época maravilhosa.

3- Como foi ter se tornado primeira bailarina tão cedo aqui no TMRJ e o que esse cargo que você exerceu também em outras companhias representa?
Foi uma coisa que eu queria, uma coisa que nunca duvidei que fosse acontecer, pelo menos eu estava trabalhando nesse sentido. Acho que se eu ficar contando com expectativas, com coisas que vão cair do céu, a probabilidade de nada cair do céu é enorme. Acredito no trabalho, que você tem que traçar um caminho e andar nele.
Foi isso que eu tinha projetado pra mim, independentemente do que os outros pensassem, eu achava que eu podia. Tirando minha pretensão, ficou só meu trabalho. Me formei, estagiei, fiz alguns corpos de baile, começaram a me dar solos e surgiu a oportunidade de ser primeira-bailarina. Então continuei lá, perseguindo o objetivo.
A primeira vez que saí do Brasil representando-o foi para Rússia, no concurso internacional de Moscou, e depois fui para os Estados Unidos dançar Giselle. Enfim, saí definitivamente do Brasil indo para Espanha na companhia de Victor Ullate. Em seguida para Suíça, onde fui primeira bailarina do Grand Theatre de Genéve, experiências incríveis. Claro que a primeira vez que você sai tem o lado sentimental de saudade que fala alto, mas você tem que controlar, ou se não você volta, e não pode voltar. Trabalhar no exterior é uma experiência importantíssima, te dá um outo pique e outras visões. Apesar de que, toda minha formação foi aqui e é essa que valeu.

4- Conte-nos algumas lembranças que você tem do seu tempo como bailarina principalmente aqui no TMRJ.
No sentido artístico vamos dizer que haviam mais espetáculos do que atualmente. E também, naquela época, muitas companhias estrangeiras vinham pra cá, como a Ópera de Paris e o Bolshoi. Então a gente bebia na fonte. Foi vendo essas companhias que eu aprendi diversos detalhes, o que não aprenderíamos sem assistir essa gente. Além de que, os poucos espetáculos que fazíamos aqui eram muito intensos. Então acho que foi uma época que talvez artisticamente, pela situação política atual, era melhor.
Quando eu entrei no TMRJ os primeiros bailarinos eram Bertha Rosanova e Aldo Lotufo. Depois a gente vai vendo aquela mudança de geração, aí entraram a Nora Esteves e eu, em seguida entra Ana Botafogo, Áurea Hammerli e Cecília Kerche. Nesse momento nós estivemos todos juntos, e isso é uma coisa maravilhosa. Pois eu também estudei com a Bertha, e de repente estavam no palco Bertha, Áurea e eu, juntas. Conseguir acompanhar essa passagem e recepção de diferentes gerações é mágico. O Theatro é nosso, não é de ninguém em particular. Posso dizer também que dancei com muita gente boa. Tive o Aldo Lotufo como partner assim como Ivan Benides, Aldemir Dutra, Alejandro Menendes, Emílio Martins e até o Dennis Grey.


5- Qual você acha que é a principal diferença entre trabalhar no exterior e aqui no Brasil?
A principal diferença é que lá você dança todo dia praticamente. Então, durante o dia a gente estava ensaiando a próxima temporada, e de noite a gente dançava a temporada. Isso o ano inteiro, sem descanso, era uma coisa diária. Só tínhamos folga na segunda-feira. Porque não há diferença de talentos, a qualidade de bailarinos que temos aqui tem lá também. A diferença é só o acesso aos espetáculos e a oferta de trabalho.

6-Seu nome é reconhecido por grande potencial artístico e seu repertório contempla uma grande versatilidade de obras, você julga isso como essencial para uma bailarina?
Eu conhecia meus limites técnicos. Sempre trabalhei pensando em primeiro vivenciar as dificuldades técnicas e depois deixar o artista vir. O que não dá, é priorizar o artista e deixar a técnica de lado ou vice-versa. O ideal é o equilíbrio. Então eu trabalhei muito. Eu era uma intérprete, uma artista. Não conseguia fazer as coisas sem me envolver, sem me emocionar. Mas isso também tem o seu perigo, você pode ser tomada pelas emoções e perder o fio da meada. Então é importante trabalhar esses dois lados. O lado da emoção é legal por saber que você está tocando as pessoas na plateia, mas também é necessário ter um trabalho técnico de qualidade. Não é apresentar um trabalho mais fraco porque eu sou artista.

7- Você tem ballets preferidos, poderia dizer alguns?
Tenho. Tem o clássico dos clássicos que é o “Lago dos Cisnes”. Eu gostei muito de trabalhar as obras contemporâneas do Oscar Araiz, que foi meu primeiro contato com dança contemporânea de fato. Também adorei fazer “Giselle”. Mas eu gosto dessa nova linguagem, ballets que exigem interpretação. Tem que ter na sua carreira um repertório, e todos esses estilos fazem parte.


8- Depois de uma carreira brilhante e de estar praticamente parada, você retorna ao palco do TMRJ na gestão de Jean Yves Lourneau dançando Suite en Blanc, A Morte do Cisne e Carabosse (em A Bela Adormecida). Como foi esse momento?
Foi ótimo, pois o diretor queria me dar um final de carreira digno. E para que eu não perdesse aquela energia vital adquirida por estar no palco, tudo o que ele colocou no repertório ele me colocou pra fazer. Meu último papel foi de Carabosse, e então eu achei que já estava no momento de parar, principalmente em respeito aos que estavam chegando.

9- Como você se sente em ser homenageada por esse Theatro que foi sua primeira casa?
É uma emoção enorme, uma sensação muito boa, até porque ser reconhecida é sempre uma coisa bacana. Que bom que o reconhecimento veio em vida, isso pra mim que é legal. Eu fico super feliz porque eu vou estar com outras pessoas que fizeram parte da minha vida: a Lauricy e o Victor Prochet, o maestro Henrique Morelembaun, que inclusive regeu Lago e uma porção de coisas quando eu era primeira-bailarina. E tem o Jorge Dias que estava lá na técnica do palco. Essas pessoas,fizeram parte da minha vida 100%. Estou muito feliz em estar ao lado delas.

FOTO: Lucas Morais

10- Como formada pela escola de danças, o que você gostaria de dizer como inspiração para os atuais estudantes daqui?
É importante saber o que você quer. O que você quer é mais importante do que os outros pensam de você. Só você pode dar uma orientação no seu caminho. No meio artístico vão acontecer várias coisas que podem te dar impressão de estarem se desviando do caminho. Mas eu acho que a mensagem principal é essa: seja qual for o caminho que você vai escolher, escolha você mesmo, você tem que ser a mente dessa escolha. E aí, é só partir para caminhar como eu fiz. Haverá momentos ruins em que você vai duvidar da sua escolha, eles fazem parte da vida, são super normais. Aproveitem tudo o que a escola dá, porque vocês vão precisar de tudo isso. A escola é a raiz da disciplina e da técnica, é o sustentáculo, vai te dar todas as bases que você precisa para ficar em pé.


ENTREVISTADORAS: Marina Tessarin & Debora Gomes