domingo, 19 de junho de 2022
O Corsário: realizando sonhos e criando novas expectativas.
terça-feira, 17 de maio de 2022
Corpos negros na dança clássica
Consuelo Rios
Entende-se que o ballet está
imerso por uma concepção de beleza relacionada a um modelo de corpo e a um
comportamento associado à técnica clássica. Ultrapassar os limites do
estereótipo é fundamental para valorizar e democratizar a dança a todos os
corpos, raças, gêneros que desejam fazer parte dessa forma de expressão tão
linda, porém preconceituosa. É importante questionar onde estão as bailarinas
negras e atentar-se que a presença ou ausência delas nos palcos é uma
construção histórica, cujos resquícios se perpetuam na contemporaneidade. Para
almejar determinado lugar é necessário se ver representado. Qual seria a
importância de uma professora de ballet negra? A busca por referências,
especificamente no ballet clássico, é uma maneira de dar visibilidade e
protagonismo a essas artistas, como também entender que apresentar novas
expectativas é primordial para contribuir com a construção de novos paradigmas.
Assim, buscamos tematizar sobre como o corpo
feminino negro foi excluído e apagado das práticas promovidas por instituições
dessa modalidade da dança que, operando saberes e poderes privilegiou corpos
normatizados brancos, criando um estereótipo de
Bailarina “perfeita”.
Representatividade
negra no Ballet Clássico
Atualmente, a visão que se tem da
bailarina ainda é uma visão idealizada, do período romântico, como um ser
perfeito, fragilizado, intocável, jovem, bela, magra e delicada. Esse corpo não
só é imaginado pelo senso comum, mas também perpetuado por professores de
ballet que orientam suas alunas, disciplinando-as para permanecer de acordo com
esse estereótipo. Percebe-se que a busca pelo perfil da bailarina, composto por
corpos de origem europeia e de olhos claros, é contraditório ao se ter como
realidade o Brasil, com a maioria da população sendo negra.
Nesse contexto, há ausência de
personagens negras protagonistas. São muitas histórias documentadas e
registradas e nenhuma delas traz consigo um protagonismo negro. A grande parte
dos contos nos quais os balés de repertório se baseiam são de escritores
brancos e de momentos históricos em que as histórias são contadas pela ótica de
uma população burguesa em ascensão. Entre as histórias estão: O lago dos
cisnes, o Quebra nozes, Dom Quixote, Coppélia, em nenhum desses uma menina
negra se apresenta como protagonista.
A imagem estereotipada que se
desenvolve ao que se acredita que deve ser um bailarino, exclui meninas e
meninos interessados na técnica clássica, mas que não se veem representados por
serem fora do padrão.
Os bailarinos negros são
inúmeros, extremamente capazes, mas o racismo ainda dificulta o acesso dos
mesmos aos espaços da cena profissional e isso se torna visível na presença de
poucos bailarinos negros em grupos profissionais. Com isso devemos não ignorar
essa realidade, mas abrir um olhar para esse cenário de forma reflexiva.
A companhia Dance Theatre of
Harlem com uma proposta originada e dirigida por Arthur Mitchell, tem como
protagonistas bailarinas negras e negros. Em seus repertórios, eles são os
principais e a companhia ressignificou diversas remontagens de balés de
repertório com os personagens sendo negros, servindo como exemplo para o
protagonismo afro descendente nesse cenário.
Jovens negros deveriam acessar o
ensino de balé clássico, que lembre que eles existam e os vejam como possíveis
profissionais, possibilitando um futuro artístico que possa ser traçado pelos
mesmos. O sonho se torna possível quando ele é imaginado. O que não se pode
esquecer é um legado de bailarinas negras brasileiras que marcaram o mundo da
dança por suas pesquisas e sua expressão em cena. Grande parte delas ainda não
possui o reconhecimento que merecem, mas, a partir do momento em que elas são
citadas, a história delas permanecem vivas.
Independentemente do talento, da vocação, das habilidades
físicas, uma bailarina não pode sonhar com o mais alto posto da maior companhia
de dança clássica do seu país por causa da cor da sua pele e isso é preocupante
Referências
Negras
Elas abriram caminhos para outras
bailarinas que hoje conseguem uma notoriedade que suas antepassadas nem sempre
conseguiram:
•
Consuelo Rios: se
tornou uma das principais professoras de ballet do País, Consuelo foi tentar
concorrer às vagas do Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro,
mas não foi sequer aceita para fazer a prova, apesar da sua excelente técnica
clássica, pelo simples fato de ser negra. Consuelo, então, não
entrou no corpo de baile do Municipal, mas decidiu estudar muito para se tornar
uma boa professora. Mais do que isso: se tornou uma das principais e melhores
professoras de ballet que o nosso País já teve e por suas mãos
passaram gerações de primeiras bailarinas e de bailarinas do Municipal e
do exterior.
•
Mercedes
Baptista: Foi a primeira negra a fazer parte do Corpo de baile do TMRJ. Por
ser aluna da escola não pode ser impossibilitada de fazer a prova, portanto a
fez e passou. Para ela, infelizmente, entrar no corpo de baile não iria
significar se tornar uma bailarina atuante nos palcos. De fato, ela não foi tão
atuante assim. Só participou de ballets nacionais pelo TMRJ e nunca de ballets
de repertório. Dança, para ela, só as aulas da escola.
Outros
nomes importantes:
•
Katherine
Dunham
•
Arthur
Mitchell
•
Misty
Copeland
•
Precious
Adams
•
Janet
Collins
•
Raven Wilkinson
•
Lauren
Anderson
•
Céline
Glitens
•
Michaela
DePrince
•
Bethania
Gomes
• Bruno Rocha
Gabriela Branco, Esther Verta e Tálita Vitória (Formandas 2022)
quinta-feira, 21 de abril de 2022
“Entrei para a galeria de formados pela EEDMO”
“Entrei para a galeria de formados pela EEDMO”
Grandes nomes que compõe o quadro de formados da escola, hoje brilham no mundo a fora, tais como: Roberta Marquez (primeira bailarina do Royal Ballet), Cícero Gomes (primeiro bailarino do Theatro Municipal do Rio de Janeiro), Marcia Haydeé (que foi a grande estrela do Stuttgart Ballet), Isabel Seabra (primeira bailarina do Teatro Scala de Milão), entre muitos outros. Pelo Brasil também há muitos nomes que passaram pela EEDMO e seguem brilhando em todo o país, especialmente no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Alguns deles são: Claudia Mota (1990), Deborah Ribeiro (1993), Rachel Ribeiro (1994), Priscila Mota (2000), Carla Carolina (2007), Juliana Valadão (2007) e Liana Vasconcelos (2008). Vale ressaltar também os ícones Márcia Jaqueline, que aos 14 anos começou a estagiar no TMRJ, sendo contratada aos 17; e Nora Esteves, que se formou pela escola em 1963 e foi promovida a primeira bailarina com apenas 17 anos.
Todavia, a escola não forma apenas bailarinos, forma artistas que seguem fazendo sucesso nas diversas áreas em que atuam. As atrizes Bibi Ferreira, Eva Tudor, Marília Pêra, Ângela Vieira, Danielle Suzuki e o carnavalesco Joãozinho Trinta também foram alunos da instituição.
La Barre - Formandas EEDMO 2021 |
Ao se formar na Maria Olenewa, concretizamos uma das etapas mais importantes de nossas vidas, e damos início a um novo ciclo repleto de transformações e aprendizados, carregando sempre toda experiência adquirida ao longo dos anos de estudante. Sentimos a honra e a responsabilidade que é tornar-se ex-aluna de uma das mais importantes escolas de dança clássica no país; e entrar para o quadro de formados, tendo o nome ao lado de grandes ícones da dança e da arte é um enorme privilégio que ficará marcado para sempre em nossa história.
Na foto, a primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Márcia Jaqueline.
Giuliana
Teixeira – 3º técnico
Lorena Nery – 3º técnico
Sarah Gomes – 3º técnico
quinta-feira, 7 de abril de 2022
FORMANDAS NO ANO EM QUE A ESCOLA COMPLETA 95 ANOS✨
Em 1927 foi fundada a Escola de Danças Clássicas do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, atual Escola Estadual de Dança Maria Olenewa (EEDMO), carregando o nome de sua fundadora. Neste ano, completam-se 95 anos de história da mais antiga e tradicional escola de formação em ballet clássico do Brasil, rumo ao seu centenário.
Desde sua abertura, com intuito de formar bailarinos para integrarem o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, a EEDMO contou com profissionais de alta competência em seu corpo docente. Estes formaram e formam técnica e artisticamente outros profissionais que seguiram e seguirão transmitindo o conhecimento adquirido, assim os mestres de hoje ligam seus alunos também aos ensinamentos de seus antigos mestres, preservando a memória da instituição. Ter esse contato com a memória de Maria Olenewa, por meio dos ensinamentos que os atuais docentes da Escola de Dança nos transmitem, é uma forma de resistir com a história do ballet e com o sonho dela de formar artistas bailarinos. Segundo Clarice Lispector “a felicidade aparece para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam em nossa vida”, e nós, como formandas dessa escola, reconhecemos e somos gratas pelos mestres e funcionários que tornaram anos de aprendizagem possíveis.
A Escola de Dança é responsável pela formação de grandes nomes da dança brasileira, - sejam eles bailarinos, docentes, coreógrafos, historiadores da dança - mas além disso, de pessoas interessadas pela cultura de nosso país. Todos que pela Escola de Dança passaram e passarão são privilegiados de ter esse contato direto e indireto com figuras importantes da cena do ballet clássico.
Ser formanda da EEDMO é sem dúvida gratificante e integrar este quadro de profissionais formados será uma conquista de extrema alegria. Não importa com que idade se ingressou na escola, os olhos brilharam na primeira aula como aluna assim como brilharão na última, o coração sorriu ao pisar a primeira vez no palco do Theatro Municipal assim como sorrirá quando dançarmos La Barre. Tamanha a importância dessa escola na realização de sonhos. Tamanha a importância dessa escola na história da arte e da dança brasileira.
La Barre - 2019
Nós, formandos de 2022, fazemos parte desses 95 anos de história e isso demandou e demanda comprometimento, disciplina e maturidade, já que temos responsabilidade de fazer jus a mesma. Temos responsabilidade inclusive de dar exemplo aos próximos formandos, através de disciplina, dedicação e amor. É necessário pensar em amor: amor pela arte, amor pela história que nos antecede, amor pelas experiências que vivemos. Vivenciamos um período pandêmico, limitado, em que a escola teve que se adaptar ao novo panorama mundial e seguir protocolos. A presença física se tornou impossível, a carga horária reduzida e o contato virtual e, ainda assim, podemos afirmar que não faltou amor. Nossos mestres nos ampararam com ensinamentos, compreensão, carinho. Nessa trajetória de formação, tivemos e temos desafios, mas o compartilhamento com nossos mestres e colegas de turma torna o esforço e a luta diária possíveis. Vibramos juntos e comemoramos as conquistas.
Formandos 2022 |
Celebramos esses 95 anos com a afirmação de que carregaremos os ensinamentos conosco, em nossas memórias, corpos e corações, respeitando e honrando o legado da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa e de nossos mestres. Nossa eterna reverência! O futuro nos espera com toda a incerteza e esperança de algo grandioso. Que seja doce!
BIBLIOGRAFIA: Escola Estadual de Dança Maria Olenewa 94 anos [recurso eletrônico]: professores que construíram a nossa história / Paulo Melgaço da Silva Júnior, Miguel Alves de Andrade (Org.). – Rio de Janeiro: AMADANÇA, 2021.
Texto: Barbara Ricciotti, Gabriela Mendes e Maria Eduarda Guerra (Formandas 2022)