Consuelo Rios
Entende-se que o ballet está
imerso por uma concepção de beleza relacionada a um modelo de corpo e a um
comportamento associado à técnica clássica. Ultrapassar os limites do
estereótipo é fundamental para valorizar e democratizar a dança a todos os
corpos, raças, gêneros que desejam fazer parte dessa forma de expressão tão
linda, porém preconceituosa. É importante questionar onde estão as bailarinas
negras e atentar-se que a presença ou ausência delas nos palcos é uma
construção histórica, cujos resquícios se perpetuam na contemporaneidade. Para
almejar determinado lugar é necessário se ver representado. Qual seria a
importância de uma professora de ballet negra? A busca por referências,
especificamente no ballet clássico, é uma maneira de dar visibilidade e
protagonismo a essas artistas, como também entender que apresentar novas
expectativas é primordial para contribuir com a construção de novos paradigmas.
Assim, buscamos tematizar sobre como o corpo
feminino negro foi excluído e apagado das práticas promovidas por instituições
dessa modalidade da dança que, operando saberes e poderes privilegiou corpos
normatizados brancos, criando um estereótipo de
Bailarina “perfeita”.
Representatividade
negra no Ballet Clássico
Atualmente, a visão que se tem da
bailarina ainda é uma visão idealizada, do período romântico, como um ser
perfeito, fragilizado, intocável, jovem, bela, magra e delicada. Esse corpo não
só é imaginado pelo senso comum, mas também perpetuado por professores de
ballet que orientam suas alunas, disciplinando-as para permanecer de acordo com
esse estereótipo. Percebe-se que a busca pelo perfil da bailarina, composto por
corpos de origem europeia e de olhos claros, é contraditório ao se ter como
realidade o Brasil, com a maioria da população sendo negra.
Nesse contexto, há ausência de
personagens negras protagonistas. São muitas histórias documentadas e
registradas e nenhuma delas traz consigo um protagonismo negro. A grande parte
dos contos nos quais os balés de repertório se baseiam são de escritores
brancos e de momentos históricos em que as histórias são contadas pela ótica de
uma população burguesa em ascensão. Entre as histórias estão: O lago dos
cisnes, o Quebra nozes, Dom Quixote, Coppélia, em nenhum desses uma menina
negra se apresenta como protagonista.
A imagem estereotipada que se
desenvolve ao que se acredita que deve ser um bailarino, exclui meninas e
meninos interessados na técnica clássica, mas que não se veem representados por
serem fora do padrão.
Os bailarinos negros são
inúmeros, extremamente capazes, mas o racismo ainda dificulta o acesso dos
mesmos aos espaços da cena profissional e isso se torna visível na presença de
poucos bailarinos negros em grupos profissionais. Com isso devemos não ignorar
essa realidade, mas abrir um olhar para esse cenário de forma reflexiva.
A companhia Dance Theatre of
Harlem com uma proposta originada e dirigida por Arthur Mitchell, tem como
protagonistas bailarinas negras e negros. Em seus repertórios, eles são os
principais e a companhia ressignificou diversas remontagens de balés de
repertório com os personagens sendo negros, servindo como exemplo para o
protagonismo afro descendente nesse cenário.
Jovens negros deveriam acessar o
ensino de balé clássico, que lembre que eles existam e os vejam como possíveis
profissionais, possibilitando um futuro artístico que possa ser traçado pelos
mesmos. O sonho se torna possível quando ele é imaginado. O que não se pode
esquecer é um legado de bailarinas negras brasileiras que marcaram o mundo da
dança por suas pesquisas e sua expressão em cena. Grande parte delas ainda não
possui o reconhecimento que merecem, mas, a partir do momento em que elas são
citadas, a história delas permanecem vivas.
Independentemente do talento, da vocação, das habilidades
físicas, uma bailarina não pode sonhar com o mais alto posto da maior companhia
de dança clássica do seu país por causa da cor da sua pele e isso é preocupante
Referências
Negras
Elas abriram caminhos para outras
bailarinas que hoje conseguem uma notoriedade que suas antepassadas nem sempre
conseguiram:
•
Consuelo Rios: se
tornou uma das principais professoras de ballet do País, Consuelo foi tentar
concorrer às vagas do Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro,
mas não foi sequer aceita para fazer a prova, apesar da sua excelente técnica
clássica, pelo simples fato de ser negra. Consuelo, então, não
entrou no corpo de baile do Municipal, mas decidiu estudar muito para se tornar
uma boa professora. Mais do que isso: se tornou uma das principais e melhores
professoras de ballet que o nosso País já teve e por suas mãos
passaram gerações de primeiras bailarinas e de bailarinas do Municipal e
do exterior.
•
Mercedes
Baptista: Foi a primeira negra a fazer parte do Corpo de baile do TMRJ. Por
ser aluna da escola não pode ser impossibilitada de fazer a prova, portanto a
fez e passou. Para ela, infelizmente, entrar no corpo de baile não iria
significar se tornar uma bailarina atuante nos palcos. De fato, ela não foi tão
atuante assim. Só participou de ballets nacionais pelo TMRJ e nunca de ballets
de repertório. Dança, para ela, só as aulas da escola.
Outros
nomes importantes:
•
Katherine
Dunham
•
Arthur
Mitchell
•
Misty
Copeland
•
Precious
Adams
•
Janet
Collins
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Raven Wilkinson
•
Lauren
Anderson
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Céline
Glitens
•
Michaela
DePrince
•
Bethania
Gomes
• Bruno Rocha
Gabriela Branco, Esther Verta e Tálita Vitória (Formandas 2022)