quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Ligando as Pontas

Um grande momento na carreira de um(a) bailarino(a) é quando ele(a) já experiente por representar tantos papéis, tem a oportunidade de dar vida a personagens mais elaborados, mais maduros e com um desempenho mais artística (Dr. Coppélius, Mme. Simone, Rothbart, A Morte do Cisne, entre outros). No ballet “A Sagração da Primavera”, que tem sua última récita está noite (30/10) às 20h no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, três personagens merecem destaque: A Eleita (2º ato), O Sábio e a Velha de 300 anos (1° ato). Três papéis de peso no ballet e que exigem de seus interpretes muita energia artística.

Uma das intérpretes da Velha de 300 anos na montagem atual do TMRJ é a bailarina Paula Passos, que na última montagem do mesmo ballet (1997), teve a oportunidade de viver outra personagem destaque, a Eleita. Por isso, a equipe do Tour en L’air procurou-a para uma entrevista, para que ela nos contasse sua experiência na interpretação desses dois papéis tão marcantes e como está sendo sua nova fase dentro da companhia, onde ocupa atualmente o cargo de ensaiadora.


Paula, na ultima montagem de "A Sagração da Primavera" no TMRJ, em 1997, você representou o papel da Eleita, um papel muito intenso. Como foi, na época, viver essa experiência? Que importância esse ballet teve em sua carreira?


Karen Mesquita no papel de Eleita (2013).
Foi o Papel da minha carreira! Marcou o meu amadurecimento como artista. Vivi intensamente esse personagem como uma iniciação espiritual. Entrando em profundo contato com a energia da Terra de Gaya, da natureza vibrando com o meu coração e com o céu, o universo. Um alinhamento energético aconteceu em mim. Consegui canalizar uma luz interna naquele círculo que faziam em torno de mim, como uma mandala. Essa iluminação foi perceptível a todos, havia algo mais naquele desempenho. Até hoje as pessoas lembram-se de mim naquele papel. Ganhei o reconhecimento e a admiração de muitos, eu mesma me surpreendi com o que aconteceu.

A Eleita é um papel muito difícil que requer muita entrega e, porque não, um sacrifício físico e interpretativo imenso. Você fez algum tipo de preparação especial para viver esse papel em 1997?

Na minha preparação entrou fortemente a cinesiologia especializada e balanceamento muscular – técnica de equilíbrio energético e desativação de estresse emocional. Me dava muita energia e me mantinha equilibrada emocional e mentalmente. Meus músculos ganharam vigor, Isso ajudou demasiadamente. Trabalhava com pesinhos na cintura para treinar os saltos e pulava corda. A parte espiritual foi trabalhada com meditação, mantras e leitura sobre “ A Sagração”. Estudei muito bem a música, sabia cada tempo, cada respiração em cada parte do solo. E na hora, a pura entrega de deixar fluir... e acontecia.

Você vive, nesse momento, a oportunidade de voltar aos palcos em "A Sagração da Primavera" no papel de Velha de 300 anos, um papel que tem um significado importantíssimo na história e requer também um trabalho interpretativo muito elaborado. Como você encara essa oportunidade de vivenciar esse outro personagem tão marcante no ballet?



Paula Passos como a Velha de 300 anos (2013).
Esse papel está sendo muito especial para mim, pois entendo que toda a sabedoria adquirida nesses 30 anos de Theatro Municipal está se refletindo nessa feiticeira que instiga o despertar da luz no coração dos jovens. Que planta uma semente de amor, de união para o “BEM MAIOR”. Instiga o despertar da alma, do artista, da Divina Presença em cada um, e juntos conectados com a inteligência que rege este universo. Como uma rede de luz!

Hoje você também tem a oportunidade de voltar como ensaiadora dessa remontagem (2013). Como é viver esse papel dentro da companhia, em especial nessa montagem?

Foi uma ótima surpresa terem me convidado. É bom estar podendo contribuir com meus conhecimentos, também pela carinhosa receptividade e respeito dos meus colegas. Isto também reflete meu comportamento na vida, valorizando o ser humano e seus sentimentos. Esse é o meu objetivo: trabalhar com amor e respeito. Tudo isso se reflete no palco, no resultado final.

No início de cada espetáculo, já está virando uma tradição os bailarinos darem-se as mãos e orientados por você procurarem se concentrar através de uma pequena meditação. Como você vê esse comportamento?

Nossa concentração antes de começar o ballet é tudo de bom. Unificando e harmonizando nossa energia. Muito bom, estou feliz!



Paula Passos iniciou seus estudos de ballet em Belo Horizonte e aos 19 anos se mudou para o Rio de Janeiro onde teve aulas com Miriam Guimarães, Maria Luiza Noronha (atual diretora da EEDMO), Tatiana Leskova, Aldo Lotufo e Flávio Sampaio. Ingressa em 1983 no corpo de baile do TMRJ onde permanece até os dias atuais.










Matéria: Luan Limoeiro

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