segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Maria Luisa Noronha: 28 anos como diretora

Dirigir uma das Escolas de Danças mais importantes do país é tarefa para poucos; até porque em função do peso de seu nome e por estar vinculada a uma das mais importantes companhias de Ballet do país (O Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro) os seus rumos estão diretamente ligados ao futuro do ballet no Brasil. O cargo exige alguém com uma trajetória muito consistente e uma experiência que ultrapasse os ensinamentos técnicos da dança clássica. Permanecer por tanto tempo a frente desse imenso desafio é algo mais grandioso ainda. E foi aceitando essa responsabilidade que desde 1991, Maria Luisa Noronha levou adiante a EEDMO com muita vivacidade, dedicação e energia.

Professores, alunos e demais funcionários da EEDMO reunidos em homenagem à nossa amada diretora.

“ Um dia cercou-se de mim e pediu aulas de ballet. Nesse tempo, eu ainda não ensinava. Era plenamente primeira bailarina com minhas grandes responsabilidades e tinha um estúdio no meu apartamento com barras e espelhos, apenas para o meu auto aperfeiçoamento. Mas o entusiasmo da menina me cativou e assim, ela se tornou minha primeira aluna e eu sua primeira pofessora.”
(Tamara Capeller, ex- primeira bailarina do BTMRJ. Depoimento retirado do Vídeo-homenagem à diretora da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, Maria Luisa Noronha, produzido em 2007 por Paulo Melgaço e Beth Oliosi)


Maria Luisa teve como primeira professora de ballet, através de sua própria insistência, Tamara Capeller, uma das mais importantes bailarinas brasileiras da década de 1950.
Logo após, passou a estudar com o professor russo Pierre Klimoff e foi nesse ambiente que se deu o encontro com Dalal Achcar, que viria a ser sua grande amiga e parceira profissional. Em 1956, Dalal Achcar fundou a Associação de Ballet do Rio de Janeiro, uma companhia formada por jovens, dentre eles, a própria Maria Luisa, Miríam Guimarães, Ismael Guizer, entre outros. Além de integrar a companhia como bailarina, nossa diretora também assumiu o cargo de secretária excecutiva, já evidenciando seu gosto e talento pelas atividades que ocorrem fora dos holofotes.



Nossa diretora Maria Luisa juntamente com funcionários EEDMO.

“Quando Maria Luisa foi nomeada diretora da Escola, nós ficamos apreensivos. Nós vínhamos de uma direção de muito tempo da Lydia Costallant e a Tânia Granado era uma continuação da “tia Lydia”. Eu, particularmente não a conhecia, nem pessoalmente. Ela chegou com seu jeito meigo e eu fiquei preocupada se haveria uma grande mudança na Escola. Mas um fato me chamou muita atenção: a Escola precisava de obras e resolvemos fazer uma rifa e eu assisti a Maria Luisa tirar uma pulseira de ouro do braço, larga, bonita grande…e colocar pra rifar a pulseira em benefício da Escola. Nesse momento, eu entendi que a gente tinha uma pessoa muito especial como Diretora da Escola. Ela é uma pessoa que nos respeita, respeita profundamente o trabalho dos professores e tem um coração muito grande. Além disso, super bem educada; então qunado ela tem que dizer não pra gente, ela diz de uma maneira tão educada que a gente nem liga. Ouve e pronto”
(Edy Diegues, ex professora da Escola. Depoimento retirado do Vídeo-homenagem à diretora da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, Maria Luisa Noronha, produzido em 2007 por Paulo Melgaço e Beth Oliosi)

Nesses 25 anos a serviço da Escola, Maria Luisa deixou sua marca e trouxe enormes contribuições, colaborando para que ela pudesse continuar sendo uma referência e servindo de celeiro para abastecer a Companhia de Ballet do Theatro Municipal.

Enquanto era homenageada nossa diretora foi tomada pela emoção.

“Dona Maria Luísa Noronha foi uma ótima diretora nesses últimos tempos, e foi uma das pessoas que fez muito por mim. Ela é uma daquelas pessoas super importantes que sempre que eu precisar de ajuda ela irá me ajudar na medida do possível. Está sempre querendo o melhor para todos, além de ser um doce de pessoa. Aprendi muito com ela a valorizar o ballet clássico como ele deve ser valorizado, ou seja, como arte, por que o ballet é uma arte que está perdendo a sua essência, me ensinou também a diferenciar a ARTE de "CIRCO".
(Manuela Medeiros, formada em 2015 e atualmente integrante da Escola Bolshoi no Brasil, em Joinville)


Durante esse período (seus 25 anos de direção ininterrupta), diversos bailarinos tornaram-se profissionais da casa, podemos destacar: Deborah Ribeiro e Paula Mendes, formadas em 1993; Raquel Ribeiro, formada em 1994; Anderson Dionísio e Melissa Souza, formados em 1995; Karina Dias e Márcia Jaqueline (Primeira Bailarina do BTMRJ), formadas em 1996; Marguerita Tostes, formada em 1998; Priscilla Mota (formada em 2001), Caroline Gil (formada em 2015), entre outros. Podemos destacar também diversos ex-alunos que hoje atuam fora do país, por exemplo: Letícia Oliveira(1993), Primeira Bailarina do Houston Ballet; Roberta Marquez (1994), Primeira Bailarina do Royal Ballet de Londres e Jonatas Albuquerque (1996), integrante do Ballet da Holanda.

“ A Maria Luisa foi sempre muito importante na minha formação clássica porque sempre me apoiou, sempre esteve acompanhando meu desenvolvimento na Escola. Quando eu me formei, eu era muito nova porque pulei alguns anos, me formei aos 14 e não podia entrar no Theatro porque só aceitavam com 16 anos. Então a Lulu permitiu que eu ficasse mais um ano na Escola até dá a idade de eu ir pro Theatro. Só que ela se propôs, na época o Jair, a conversar com ele e conseguir um estágio pra mim. Ele aceitou e aos 14 anos de idade eu entrei pro Theatro, estagiei e hoje sou bailarina profissional, faço primeiros papeis, atuo como primeira bailarina a três anos no Theatro e eu sou muito grata pela Lulu porque ela fez um papel enorme dessa trajetória que eu fiz da Escola até o Theatro Municipal.” 
(Marcia Jaqueline, atualmente Primeira Bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Depoimento retirado do Vídeo-homenagem à diretora da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, Maria Luisa Noronha, produzido em 2007 por Paulo Melgaço e Beth Oliosi)

“Eu escolhi a Lulu como madrinha não foi atoa, posso dizer que grande parte da minha formação eu devo a ela, que sempre acreditou no meu potencial como bailarina. Agradeço por ter tido a oportunidade de fazer parte da EEDMO durante toda a sua administração, hoje, formada vejo que além de uma diretora eu tive uma amiga, uma professora, uma mestra, e acima de tudo uma incentivadora. Foram 9 anos de aprendizado constante e pude perceber o quanto o trabalho dela me impulsionou pra que hoje eu chegasse a ingressar em uma companhia tão renomada como a companhia do TMRJ . A ela toda a minha gratidão e admiração.”
(Caroline Gil, formada pela EEDMO em 2015 e hoje, integrante do Corpo de Baile do BTMRJ)


“Minha eterna reverência, gratidão, amor e admiração a você minha diretora e madrinha, sou o bailarino que sou hoje, graças a você, obrigado por toda oportunidade e confiança. Maria Luiza Noronha nos faz não apenas sonhar, nos faz realizar, fui feliz a cada segundo na EEDMO. Quando entrei na sala de audição, trêmulo, inseguro, olhei pra você, e com um olhar meigo e um sincero sorriso me disse "calma menino". Ah Lulu vou sentir sua falta, a EEDMO irá sentir sua falta, falta de sua sinceridade, amor, dedicação e cuidado. Salve nossa diretora, salve nossa eterna e única Maria Luisa Noronha.” 
(Felipe Vianna, aluno do 1° técnico)

Além de bailarinos e artistas competentes e reconhecidos, a Escola se destacou por formar professores com qualidade e comprometimento. Atualmente, nosso corpo docente é constituido por alguns ex-alunos da Escola, formados durante a sua gestão, como os professores Victor Ciattei, Amanda Peçanha, Paula Albuquerque e Karina Dias.

“Conheço a professora Maria Luisa desde os meus nove anos de idade. Fiz toda a minha formação sob sua direção. Minhas lembranças são muito boas: sempre sorrindo, cumprimentando a todos quando passava pelos corredores da escola e mantendo-se muito acessível aos alunos e seus responsáveis. Em particular, tive maior contato e proximidade com a "Lulu" nos anos técnicos. Eu trabalhei no Ballet Jovem e ela fazia de tudo para que eu pudesse conciliar a escola de dança com a companhia. Lembro-me com carinho dos ensaios em sua presença. Conseguia sentir o carinho dela por mim. Uma vez, quando eu estava ensaiando a variação de Paquita ela me disse: " Amandinha, vou te passar um batom vermelho se você não sorrir! " Era sempre divertido...

Como professora não foi muito diferente. Quando fui trabalhar na escola (convidada pela Maria Luisa), tive apoio e fui recebida com carinho. A Lulu sempre se mostrou muito disponível para ouvir aos professores e funcionários da escola. Não temos receio em nos dirigirmos a ela. Esse espaço entre nós, nunca me pareceu distante. Por me conhecer desde pequena, Maria Luisa se sente muito a vontade para me fazer qualquer tipo de crítica. Se tiver que me chamar atenção, ela chama e pronto! O que, para mim, foi um pouco difícil no início, por ter iniciado minha carreira como educadora muito jovem. Hoje em dia, ouço melhor, vejo melhor e consigo compreender o seu ponto de vista.
Maria Luisa foi muito importante para a história e crescimento da nossa amada Escola e formou gerações de bailarinos que hoje se encontram nas mais diversas e tradicionais companhias e escolas, assim como eu.
Lulu, à você, minha eterna amizade, gratidão e carinho por tudo que significas para mim, e por tudo que representas para a escola de dança. ”
(Amanda Peçanha, formada pela Escola e, atualmente, professora)

Todo esse sucesso e conquistas que se deram na sua gestão são certamente, fruto de uma grande vocação para a liderança e de uma vasta experiência não só no campo da técnica clássica mas em todos os processos fundamentais para a arte acontecer. O trabalho como bailarina, remontadora, produtora, escritora/colunista mostra como é uma profissional completa e com capacidade de olhar através de diversos ângulos. Sua trajetória também é um exemplo pois demonstra a importância de manter-se atualizada, de buscar novos desafios, de estudar e amar o que faz.

Toda Escola de Dança reunida para homenagear nossa amada diretora.

Dona de uma grande energia, ousadia e espontaneidade a senhora foi fundamental para a construção de uma escola de qualidade que forme bons profissionais e cidadãos. Sua contribuição extrapola seu conhecimento sobre a técnica, pois pela sua história percebe-se sua consciência com relação a importância de uma bagagem cultural para a formação de um bailarino e por isso, sempre incentivou iniciativas que contribuam nesse sentido.Toda despedida, por guardar memórias de tempos felizes, tende a se tornar triste; No entanto, sua passagem por aqui foi tão frutífera e marcante que sua essência, seus projetos e seus frutos continuarão tornando-a presente.

Obrigada por tudo !


Na foto, a espontaneidade do sorriso que cativou a todos nós !


Maria Luiza Patury - 1° Técnico
Fotos: Raphael Cindra
  





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