A história do Theatro Municipal do Rio de Janeiro é memorável e nunca deve ser esquecida, por isso é essencial que o esforço feito por grandes personalidades do século XX deve ser passado para as novas gerações. Felizmente, após difíceis dois anos em meio a crises financeiras enfrentadas em todo o país, o Corpo de Baile do TMRJ juntamente à OSTMRJ terá o imenso prazer de apresentar o espetáculo “Jóias do Ballet”, com quatro récitas, que trará “Espectro da Rosa”, “Les Sylphides” e “Raymonda” para comporem um grande retorno da vivacidade dentro do maior templo da arte do Brasil.
Ao pensar nesse espetáculo, é necessário citar a participação das alunas dos últimos anos da escola (2º e 3º técnico) no ballet Les Sylphides. Poder passar por experiências de conviver com uma companhia profissional, que foi criada a priori para ser o futuro dos alunos da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa (EEDMO), é muito importante para conseguir entender o que será a vida como bailarino(a) profissional.
Na foto, Márcia Faggioni e Teresa Augusta com alunas do 3° ano Técnico da Escola de danças. |
Analisando pelo peso e simbolismo histórico que toda a montagem carrega vale lembrar que Maria Olenewa, grande bailarina russa que veio ao Brasil com a companhia de Anna Pavlova e fez grande sucesso ao dançar em óperas tanto no Theatro Municipal quanto no Teatro Colón, foi a primeira a lutar com muita garra pela criação de uma escola de ballet clássico no Rio de Janeiro. Olenewa foi a bailarina que dedicou grande parte de sua vida a conseguir construir a base necessária para fixar por longo tempo esse centro de aprendizado para bailarinos. Sempre teve como objetivo principal promover um ensino completo de técnica clássica para que o TMRJ possuísse seu próprio Corpo de Baile sem a necessidade de contratar bailarinos de outros países para as temporadas líricas, já que inicialmente as obras aqui apresentadas eram voltadas somente para óperas com curtas participações de bailarinos.
Tendo sido o sonho realizado em abril de 1927, a escola oficial de dança do Theatro Municipal foi finalmente fundada. Em novembro do mesmo ano foi apresentado o 1º Grande Festival da Escola de Bailados, sob a direção de Maria Olenewa, que montou o clássico Les Sylphides, remontado futuramente por novas gerações (1960, 1978, 1979, 1987, 1996, 2017). Foi o primeiro ballet a ser encenado pela antiga Escola de Bailados em 1927 e fez parte também da primeira temporada de bailados em 1937 da companhia profissional, sendo este o Corpo de Baile oficial do TMRJ, constituído pelos bailarinos formados pela Escola.
Foto do ensaio de palco de "Les Sylphide" |
No espetáculo em questão temos como remontadora e ensaiadora de “Les Sylphides” Márcia Faggioni, ex-solista do Corpo de Baile do Theatro Municipal, hoje professora dos anos técnicos da Escola de Dança. Como sua assistente, Teresa Augusta, que foi aluna da Escola de Danças que integrou o Corpo de Baile do TMRJ e construiu rica e aclamada carreira como Solista do Theatro Municipal. Em cena como “Prelúdio” temos Deborah Ribeiro, Primeira Solista do BTMRJ, formada pela EEDMO. Além desta podemos citar Carla Carolina, Juliana Valadão, Melissa Timbó, Rachel Ribeiro, Samantha Monteiro, todas ex-alunas EEDMO que ao lado de tantos outros nomes figuram atualmente compondo o Corpo de Baile do TMRJ. Hoje, algumas alunas dos últimos anos da Escola tendo a valiosa e ímpar oportunidade de dividir o palco estando em cena com CBTMRJ, com nomes da dança como Cícero Gomes e Cláudia Motta, experienciando, aprendendo e estando em contato com referências como Ana Botafogo e Cecilia Kerche. Na interligação presente entre todos esses nomes se explicita o caráter de continuidade como característica inerente a toda história da EEDMO. E é então que percebemos que essa integração é que permite por fim a formação não apenas de bailarinos, mas de artistas. A trajetória cíclica da nossa história, que foi escrita e perenemente se escreve pelas atuais gerações num ritmo que pertua a continuidade.
O espetáculo “Jóias do ballet” é a reunião de grandes artistas do corpo de baile do TMRJ, sob direção de importantes nomes da história do ballet brasileiro com as novas gerações de bailarinas da Escola de dança apresentando “Les Sylphide”, o que dá continuidade ao esforço de Maria Olenewa e reforça, o legado e objetivo da Escola como celeiro de bailarinas, e do Teatro como uma grande casa de espetáculos brasileira que mantém vivo o sonho das alunas de fazerem parte dele.