De Aluna à Primeira Bailarina
Márcia Jaqueline Formada pela EEDMO, hoje Primeira Bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. |
Segue a entrevista com nossa Primeira Bailarina:
Márcia Jaqueline e Filipe Moreira - Ballet O Lago dos Cisnes. |
MÁRCIA JAQUELINE: Eu soube através de uma tia minha que já tinha feito ballet na Escola de Dança. Ela era espírita e muito sensitiva; um dia teve um sonho em que a filha dela fazia ballet e entrava para a Escola e nesse mesmo sonho essa menina se chamava Márcia, sendo que o nome de sua filha era Valéria. Eu era a única Márcia da família e ela disse: “a Marcinha tem que fazer essa prova!”. Aí ela me deu o endereço, telefone e a gente chegou até a EEDMO. Então foi assim que eu conheci, através da Tia Mirian.
Márcia Jaqueline. |
TOUR: Quando você decidiu que queria seguir profissionalmente na dança e qual foi o papel da Escola de Danças nessa decisão?
M. J: Eu decidi através da Escola de Dança, porque antes eu só fazia jazz. Conheci o ballet na Escola e já no preliminar tomei aquilo como vida, já pensei em seguir profissionalmente por ver os bailarinos do Theatro Municipal, por ter um contato grande, assistir os ballets.... Então eu comecei a ver aquelas peças tão lindas, as bailarinas dançando de tutu, na ponta, isso tudo era muito novo para mim. E também as minhas professoras: a Tia Amelinha (Amélia Moreira), Tia Regina (Regina Bertelli), as duas já falecidas, e a Tia Edy (Edy Diegues), que é meu xodó, que sempre incentivaram, me ajudaram muito na época que eu estava na Escola e assim, eu decidi que era aquilo que eu queria como profissão.
TOUR: Como foi chegar ao cargo máximo de uma companhia como a do Theatro Municipal do Rio de Janeiro? Quais foram as maiores dificuldades no percurso?
M. J: Dificuldades a gente encontra sempre. Bailarino a vida inteira vai ter dificuldade. Mas, quando eu comecei a assistir os ballets do Theatro, que eu via a principal dançar. Com 9 ou 10 anos de idade, eu pensava: “quero ficar ali na frente...” E quando eu entrei para o Theatro, eu era muito novinha, tinha 14 anos e nem podia ser contratada. Então eu fiquei um tempo estagiando e passei por todas as etapas na Companhia; fui corpo de baile, segunda solista, primeira solista, até chegar a primeira bailarina. E foi interessante porque quando Dalal Achcar assumiu a direção, ela me deu vários solos, mas eu nunca tive um primeiro papel. E como mudamos de diretor o tempo todo, é sempre uma novidade: às vezes um gosta e o outro não de você... Depois da Dalal entrou o Richard Cragun como diretor e o primeiro ballet foi Giselle. Ele não me conhecia, não tivemos contato nenhum e de papeis de solista, eu voltei a fazer corpo de baile, eu era segundo elenco de camponesa e de Willis. Porém, uma menina do corpo de baile se machucou e ele precisava de alguém para fazer um solo, o pas de six, aquela do meio. Na época da Dalal eu já fazia. Daí a ensaiadora Soninha, que também me ajudou muito, falou que eu sabia fazer esse solo. Então me testaram, e Richard teve um olhar muito legal porque depois que eu fiz esse primeiro solo, foi na gestão que eu ganhei meus primeiros papeis. Minha primeira personagem principal foi no ballet La Fille Mal Gardèe, com Emílio Martins nos ensaiando. A partir daí eu não parei mais de fazer primeiros papéis. Ele foi uma pessoa que confiou não só em mim, mas em vários outros bailarinos, investiu e teve esse olhar mais sensível de ver uma pessoa mais nova na Cia e experimentar, e deu certo! Eu recebi meu título depois em 2007 pelo Marcelo Missalidis.
Márcia Interpretando Odette, Papel Principal do Ballet "O Lago dos Cisnes". |
M. J: A gente trabalha de 10 às 16 horas da tarde e após esse horário tem Pilates, duas vezes na semana, fisioterapia, uma vez na semana, e os ensaios extras quando eu danço fora. Então tudo que eu tenho para fazer fora do Theatro eu ensaio depois das quatro, depois das cinco... É bem puxado. Esse final de ano então está bem corrido, estou ensaiando bastante e fazendo aula sábado para não sair de forma.
M. J: Tia Amelinha (Amélia Moreira), Tia Regina (Regina Bertelli) e Tia Edy (Edy Diegues) foram as responsáveis por influenciar minha decisão de ser bailarina. Foram como mães aqui na Escola de Dança. Eu morava muito longe, então, dormia na casa de uma, de outra, nas viagens uma delas ficava comigo no quarto quando minha mãe não ia. A Maria Luisa – diretora da Escola – também me ajudou muito. Então essas quatro pessoas me ajudaram muito nesse começo que é muito mais difícil: ficar aqui o dia inteiro, emendar com a escola... É uma fase muito difícil que, na nossa idade, é hora de desistir ou ir, e é muito fácil desistir. Foram elas que me apoiaram para continuar. Eu ficava muito cansada porque eu acordava muito cedo, dormia muito tarde, comia no ônibus, minha mãe teve que parar de trabalhar... Foram essas quatro pessoas que me incentivaram a não desistir. E, obviamente a minha mãe, a mãe é sempre a principal da história inteira e aí vem as segundas mães.
Márcia Jaqueline e Cícero Gomes - Pas de Deux de Don Quixote. |
M. J: Eu sempre assisto ballet de outras companhias, com outras bailarinas; é legal ver ballets mais antigos porque eu acho que tem uma veia artística bem interessante. Mas eu também procuro ir a museu, ler história de criança, dependendo do ballet, ver filmes... É legal não se prender só ao ballet, porque se não você fica uma coisa muito quadrada, específica. Às vezes você consegue num quadro tirar um personagem que você está estudando. Com a Bela Adormecida, por exemplo, eu via muito desenho animado. Ler muito livro, pesquisar a história do personagem é fundamental! Não é só executar o passo, temos que buscar em todas as áreas artísticas possíveis. Você tem que se envolver com o personagem, não é apenas chegar e fazer, você tem que se tornar ele.
M.J: Eu como de tudo.... Depois que eu fiz 30 anos, eu estou com 33 agora, eu dei uma mudada pela saúde, pelo físico.... Porque com 20 a gente come e não engorda ou se engorda perde rápido, mas com 30 já dá para sentir a diferença. Então eu mudei com relação a isso, por exemplo, troquei arroz branco pelo integral, como granola, enfim, tenho tentado manter uma alimentação mais saudável, mas o meu pecado é o doce. Durante a semana eu procuro evitar doce, mas no final de semana eu como; não consigo ficar sem. Dependendo do ballet, por exemplo o Sétima Sinfonia de Betoween que era de malha, collant branco e uma luz branca, não tem jeito: tem que fechar a boca!
Márcia Jaqueline e o Primeiro Solista do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Filipe Moreira - Ballet Romeu e Julieta. |
M. J: Ela é incrível, uma diva! Eu já conhecia a Marcia quando ela veio montar Romeu e Julieta e é incrível porque a gente pensa nela como estrela absoluta, intocável e ela é tão querida... Lá, no Chile eu percebi muito isso, ela é a mãezona da companhia toda, durante os espetáculos ela não para, ela ficou dois espetáculos na coxia e enquanto não deu tudo certo (de cenário, de luz...) ela não foi assistir lá de fora. Super receptiva, amorosa com a gente, querida demais. Eu sou muito apaixonada por ela, minha diva!
Márcia Jaqueline - Primeira Bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. |
E esta foi nossa conversa com nossa primeira bailarina. Márcia é uma inspiração e modelo para todas nós, alunas da Escola, que pretendemos seguir carreira no mundo da dança e almejamos chegar aos palcos do nosso tão renomado Theatro Municipal.
Márcia, foi um prazer conversar com você e conhecer mais sobre sua carreira e trajetória!
Márcia Jaqueline - Coppelia Remontagem Theatro Municipal do Rio de Janeiro. |
Malu Patury - 1° Técnico e Paula Caldas - 3° Médio.