segunda-feira, 30 de novembro de 2015

De Aluna à Primeira Bailarina

De Aluna à Primeira Bailarina


Márcia Jaqueline Formada pela EEDMO, hoje Primeira Bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

De personalidade vívida e marcante, com sua técnica e arte, ela arranca sorrisos e suspiros da plateia quando sobe ao palco e começa a dançar. Tivemos a oportunidade de entrevistar e conversar com nossa primeira bailarina Márcia Jaqueline. Já tendo dançado uma imensa variedade de ballets e tendo feito o papel principal em grande parte deles, Márcia é formada pela EEDMO e pôde nos contar um pouco sobre sua formação. Durante a entrevista, nos conta sua trajetória no mundo da dança, seus maiores papeis e qual foi a participação e importância da Escola em sua carreira.


Segue a entrevista com nossa Primeira Bailarina:



Márcia Jaqueline e Filipe Moreira -  Ballet O Lago dos Cisnes.


TOUR: Como você entrou na Escola Estadual de Dança Maria Olenewa?  Como soube de sua existência?

MÁRCIA JAQUELINE: Eu soube através de uma tia minha que já tinha feito ballet na Escola de Dança. Ela era espírita e muito sensitiva; um dia teve um sonho em que a filha dela fazia ballet e entrava para a Escola e nesse mesmo sonho essa menina se chamava Márcia, sendo que o nome de sua filha era Valéria. Eu era a única Márcia da família e ela disse: “a Marcinha tem que fazer essa prova!”. Aí ela me deu o endereço, telefone e a gente chegou até a EEDMO. Então foi assim que eu conheci, através da Tia Mirian.


Márcia Jaqueline.


TOUR: Quando você decidiu que queria seguir profissionalmente na dança e qual foi o papel da Escola de Danças nessa decisão? 

M. J: Eu decidi através da Escola de Dança, porque antes eu só fazia jazz. Conheci o ballet na Escola e já no preliminar tomei aquilo como vida, já pensei em seguir profissionalmente por ver os bailarinos do Theatro Municipal, por ter um contato grande, assistir os ballets.... Então eu comecei a ver aquelas peças tão lindas, as bailarinas dançando de tutu, na ponta, isso tudo era muito novo para mim. E também as minhas professoras: a Tia Amelinha (Amélia Moreira), Tia Regina (Regina Bertelli), as duas já falecidas, e a Tia Edy (Edy Diegues), que é meu xodó, que sempre incentivaram, me ajudaram muito na época que eu estava na Escola e assim, eu decidi que era aquilo que eu queria como profissão.



TOUR: Como foi chegar ao cargo máximo de uma companhia como a do Theatro Municipal do Rio de Janeiro? Quais foram as maiores dificuldades no percurso?

M. J: Dificuldades a gente encontra sempre. Bailarino a vida inteira vai ter dificuldade. Mas, quando eu comecei a assistir os ballets do Theatro, que eu via a principal dançar. Com 9 ou 10 anos de idade, eu pensava: “quero ficar ali na frente...” E quando eu entrei para o Theatro, eu era muito novinha, tinha 14 anos e nem podia ser contratada. Então eu fiquei um tempo estagiando e passei por todas as etapas na Companhia; fui corpo de baile, segunda solista, primeira solista, até chegar a primeira bailarina. E foi interessante porque quando Dalal Achcar assumiu a direção, ela me deu vários solos, mas eu nunca tive um primeiro papel. E como mudamos de diretor o tempo todo, é sempre uma novidade: às vezes um gosta e o outro não de você... Depois da Dalal entrou o Richard Cragun como diretor e o primeiro ballet foi Giselle. Ele não me conhecia, não tivemos contato nenhum e de papeis de solista, eu voltei a fazer corpo de baile, eu era segundo elenco de camponesa e de Willis. Porém, uma menina do corpo de baile se machucou e ele precisava de alguém para fazer um solo, o pas de six, aquela do meio. Na época da Dalal eu já fazia. Daí a ensaiadora Soninha, que também me ajudou muito, falou que eu sabia fazer esse solo. Então me testaram, e Richard teve um olhar muito legal porque depois que eu fiz esse primeiro solo, foi na gestão que eu ganhei meus primeiros papeis. Minha primeira personagem principal foi no ballet La Fille Mal Gardèe, com Emílio Martins nos ensaiando. A partir daí eu não parei mais de fazer primeiros papéis. Ele foi uma pessoa que confiou não só em mim, mas em vários outros bailarinos, investiu e teve esse olhar mais sensível de ver uma pessoa mais nova na Cia e experimentar, e deu certo! Eu recebi meu título depois em 2007 pelo Marcelo Missalidis.


Márcia Interpretando Odette, Papel Principal do Ballet "O Lago dos Cisnes". 

TOUR: Como é o seu cotidiano com relação ao trabalho? 

M. J: A gente trabalha de 10 às 16 horas da tarde e após esse horário tem Pilates, duas vezes na semana, fisioterapia, uma vez na semana, e os ensaios extras quando eu danço fora. Então tudo que eu tenho para fazer fora do Theatro eu ensaio depois das quatro, depois das cinco... É bem puxado. Esse final de ano então está bem corrido, estou ensaiando bastante e fazendo aula sábado para não sair de forma.



TOUR: Quais foram os bailarinos ou professores que mais influenciaram a sua carreira? 

M. J: Tia Amelinha (Amélia Moreira), Tia Regina (Regina Bertelli) e Tia Edy (Edy Diegues) foram as responsáveis por influenciar minha decisão de ser bailarina. Foram como mães aqui na Escola de Dança. Eu morava muito longe, então, dormia na casa de uma, de outra, nas viagens uma delas ficava comigo no quarto quando minha mãe não ia. A Maria Luisa – diretora da Escola – também me ajudou muito. Então essas quatro pessoas me ajudaram muito nesse começo que é muito mais difícil: ficar aqui o dia inteiro, emendar com a escola... É uma fase muito difícil que, na nossa idade, é hora de desistir ou ir, e é muito fácil desistir. Foram elas que me apoiaram para continuar. Eu ficava muito cansada porque eu acordava muito cedo, dormia muito tarde, comia no ônibus, minha mãe teve que parar de trabalhar... Foram essas quatro pessoas que me incentivaram a não desistir. E, obviamente a minha mãe, a mãe é sempre a principal da história inteira e aí vem as segundas mães.


Márcia Jaqueline e Cícero Gomes - Pas de Deux de Don Quixote.


TOUR: Como é a sua preparação para dançar um ballet? O que você estuda, assiste...?

M. J: Eu sempre assisto ballet de outras companhias, com outras bailarinas; é legal ver ballets mais antigos porque eu acho que tem uma veia artística bem interessante. Mas eu também procuro ir a museu, ler história de criança, dependendo do ballet, ver filmes... É legal não se prender só ao ballet, porque se não você fica uma coisa muito quadrada, específica. Às vezes você consegue num quadro tirar um personagem que você está estudando. Com a Bela Adormecida, por exemplo, eu via muito desenho animado. Ler muito livro, pesquisar a história do personagem é fundamental! Não é só executar o passo, temos que buscar em todas as áreas artísticas possíveis. Você tem que se envolver com o personagem, não é apenas chegar e fazer, você tem que se tornar ele.



TOUR: Com relação a sua rotina alimentar? 

M.J: Eu como de tudo.... Depois que eu fiz 30 anos, eu estou com 33 agora, eu dei uma mudada pela saúde, pelo físico.... Porque com 20 a gente come e não engorda ou se engorda perde rápido, mas com 30 já dá para sentir a diferença. Então eu mudei com relação a isso, por exemplo, troquei arroz branco pelo integral, como granola, enfim, tenho tentado manter uma alimentação mais saudável, mas o meu pecado é o doce. Durante a semana eu procuro evitar doce, mas no final de semana eu como; não consigo ficar sem. Dependendo do ballet, por exemplo o Sétima Sinfonia de Betoween que era de malha, collant branco e uma luz branca, não tem jeito: tem que fechar a boca!


Márcia Jaqueline e o Primeiro Solista do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Filipe Moreira -  Ballet Romeu e Julieta.  


TOUR: Você fez recentemente uma temporada no Chile. Como foi trabalhar sob a direção de Márcia Haydeé? 

M. J: Ela é incrível, uma diva! Eu já conhecia a Marcia quando ela veio montar Romeu e Julieta e é incrível porque a gente pensa nela como estrela absoluta, intocável e ela é tão querida... Lá, no Chile eu percebi muito isso, ela é a mãezona da companhia toda, durante os espetáculos ela não para, ela ficou dois espetáculos na coxia e enquanto não deu tudo certo (de cenário, de luz...) ela não foi assistir lá de fora. Super receptiva, amorosa com a gente, querida demais. Eu sou muito apaixonada por ela, minha diva!



Márcia Jaqueline - Primeira Bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. 


E esta foi nossa conversa com nossa primeira bailarina. Márcia é uma inspiração e modelo para todas nós, alunas da Escola, que pretendemos seguir carreira no mundo da dança e almejamos chegar aos palcos do nosso tão renomado Theatro Municipal. 

Márcia, foi um prazer conversar com você e conhecer mais sobre sua carreira e trajetória!


Márcia Jaqueline - Coppelia Remontagem Theatro Municipal do Rio de Janeiro.


Malu Patury - 1° Técnico e Paula Caldas - 3° Médio.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O Theatro Municipal Anuncia as Temporadas 2016

O Theatro Municipal Anuncia as Temporadas 2016


Capa do Programa de 2016.


Mais um ano está acabando e com esse finalzinho chegam novidades para o ano que vem: a programação de espetáculos de 2016. A divulgação de óperas, concertos e ballets foram anunciados na quinta-feira da semana passada, dia 19. O que esperar de uma programação dessas? Sucesso!

O Corpo de Baile do Theatro Municipal vai abrir a temporada com a "Apoteose da Dança". Ballet que foi apresentado esse ano com grande aprovação do público. Nada melhor do que começar um novo ano com um bonito espetáculo.



Fotos do Corpo de Baile do Theatro Municipal na Temporada Apoteose da Dança de 2015:

7ª Sinfonia: Deborah Ribeiro e o Primeiro Bailarino Francisco Timbó.  

Age of Innocence: Deborah Ribeiro e Moacir Emanuel Primeiros Solista.
7ª Sinfonia: Karen Mesquita e Murilo Gabriel Solistas do CBTRJ.

















Dos clássicos balés de repertório, será apresentado La Sylphide e O Quebra-Nozes. Para nós, são escolhas de grandes contribuições. Com La Sylphide, teremos a oportunidade de assistir um balé de grande importância histórica e com O Quebra-Nozes retornando a programação, poderemos assistir esse encantador espetáculo temático de Natal que em suas produções abriu espaço para participação das alunas e alunos da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa Ambos irão contribuir fortemente para nossa formação clássica.


O Quebra-Nozes Theatro Municipal do Rio de Janeiro.


No mês que a cidade receberá os jogos olímpicos com muitos visitantes estrangeiros, o Theatro irá apresentar o espetáculo Trilogia Amazônica, de três partes independentes do século XX que retratam a floresta amazônica. Uma produção que traz a cultura ameríndia, uma cultura nacional.

E mais. Junto a ópera de Mozart e Saliere terá o balé Sheherezade em um ato, com a bela musica de Nikolai Rimsky-Korsakov e coreografia de Mikhaeil Fokine.


Foto retirada do programa do Theatro Municipal para 2016.


Um importante destaque para nós é o item posto para criação em 2016 que trata de uma vinculação da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa à estrutura da direção artística do Theatro Municipal para que as alunas e alunos possam participar da temporada! Essa proposta trará um grande gás para todos em dedicação e esforço. Reconhecemos e valorizamos as experiências que ganhamos com as produções profissionais.

Não poderíamos deixar de mencionar também uma preocupação para a temporada de 2016 muito valiosa: o acesso ao espetáculo. Foi anunciado o retorno do Domingo no Municipal (as apresentações com preços populares), assinatura para óperas e balés com desconto, venda de ingressos a preços acessíveis a todos os setores, destinação de ingressos devolvidos e não utilizados para alunos da escola de música e projetos sociais, bem como a participação dos mesmos em formação de plateia, como espectador nos ensaios abertos, visitas guiadas e espetáculos gratuitos.


Segue a seguir o Link do Theatro Municipal para conferir com detalhes a programação de 2016: 



Aguardamos ansiosos!


Tabata Salles- 3° Médio  e  Ique Hillesheim- 2° Básico.

domingo, 22 de novembro de 2015

O dia da Formatura: A eterna emoção de La Barre

O dia da Formatura: A eterna emoção de La Barre


Dançar La Barre, é sempre uma expectativa para todas as alunas da EEDMO, tornou-se um marco da formatura. Durante os nove anos de escola, todas as alunas esperam o dia de dançar a tão esperada e simbólica coreografia, tornando-se um marco na vida de todas as alunas.

Vassili (Coreógrafo), Amanda Peçanha (ensaiadora) e Formandas 2015.


Vassili Sulich coreógrafo de La Barre, nasceu em 29 de dezembro de 1929, em Ilha de Brac, a Yugoslávia. Foi para os Estados Unidos de 1964. Bailarino principal na produção da Broadway Follies Bergere, New York City, 1964, mestre de balé na produção em Las Vegas, 1964-1972. Coreógrafo independente na Europa e Estados Unidos, desde 1964. Fundador, diretor artístico Nevada Dance Theatre, Las Vegas, 1972-1997, consultor, assessor, 1997-1998. Recebeu o Distinguished Nevadan Prêmio do Conselho de Regentes da Universidade de Nevada, Las Vegas, e Prêmio Artes do Governador como individual proeminente artista por suas contribuições para a comunidade de Las Vegas. Ele foi homenageado pela Câmara de Comércio para o Sucesso na Arte e entretenimento. Em 1992, o senador Harry Reid apresentou Vassili com um Achievement Award em reconhecimento por sua excelente direção artística de Nevada Dance Theatre. Em 1999 Vassili foi introduzido no Hall of Fame Legends Casino em reconhecimento dos seus anos de dança na Strip, na famosa Folies Bergere no Tropicana Hotel.

Ensaio de La Barre.


Uma das grandes criações de Vassili é a coreografia La Barre. Criada a 43 anos atrás, a inspiração dele surgiu devido a Música Adagio for Strings de Bach.


Coreógrafo e Remontadora, Vassili e Amanda Peçanha.

“Minha preocupação como bailarino e depois como coreógrafo era sempre em fazer coisa linda. “

“Minha maior preocupação era criar ballets com histórias, em que o bailarino possa interpretar personagens diferentes cada qual com as suas características.”

Vassili e nossa aluna Carla de Paula 2º Técnico - Futura formanda 2016.


La Barre é um símbolo, em que todos os bailarinos iniciam e terminam as suas vidas profissionais com a barra, o objetivo é mostrar que o cotidiano do ballet embora repetitivo, pode não ser chato com plié, battement, fondue. A frustração e a alegria desta profissão.

Vassili dançou, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 1957, vindo em uma tourné com a Companhia de Ballet de Paris. Através de um amigo, foi convidado para um jantar no qual conheceu Maria Luiza Noronha diretora da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, esta sugeriu que La Barre seria a coreografia perfeita para a formatura da escola. Foi a partir desse momento que começou a sua relação com a EEDMO

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Caroline Gil, Ana Carolina Castro, Shantala Cavalcanti e Manuela Medeiros, Ensaiando La Barre.

“Sinto - me muito feliz ao ver a minha coreografia como um marco para as formandas da escola.”

“Todos os anos ao ver bailarinas formandas dançando La barre me emociona, até mesmo porque o sucesso de um ballet está na música, sendo Adagio for Strings de Bach magnífica e fascinante.”

“Tudo que existe no ballet que possua emoção, nunca sairá de moda.”


Formandas 2015.
“É muito gratificante ser ensaiadora do ballet, fui formanda em 2004 e dancei La Barre na sua quarta edição no mesmo ano, comecei a ensaiá-lo em 2008. La barre já está no meu corpo.” - Amanda Peçanha.

La Barre - Coreografia Vassili e Remontagem Amanda Peçanha.

Carla de Paula- 2º Técnico

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Entre o Negro e o Branco, Preferimos a Arte!

Entre o Negro e o Branco, Preferimos a Arte


Um país onde a miscigenação de etnias é tão evidente, como no Brasil, é de se espantar que em pleno sec. XXI, mais de 100 anos após a abolição da escravatura, a desigualdade social relacionada à discriminação racial ainda é um problema difícil de ser superado.

A raça negra, historicamente, tem sido lesada, explorada e inferiorizada dentro do nosso país. Esse fato, ainda é sentido por grande parte da população negra que sofre com o estigma do "Negro não é gente", tão difícil de apagar da consciência do povo. O preconceito existe, velado ou não, ele está ai. Na mídia, por exemplo, raramente vemos galãs negros ganhando papéis de destaque em novelas. No ballet clássico, esse preconceito é ainda mais acentuado. Uma arte que por natureza europeia, cultua um modelo único de corpo (e que o perfil brasileiro não se encaixa), musculatura magra, pele clara, traços finos nas expressões faciais, cabelo liso... Enfim, há uma série de exigências que, naturalmente, vai expulsando o Negro deste segmento da arte. Lamentamos!


Na contramão, bailarinos extraordinários vêm travando um verdadeiro duelo contra esse modelo único que mais exclui e subtrai do que acrescenta algo de valioso à arte. Nomes como Misty Copeland (1° bailarina do ABT), ganham visibilidade no cenário mundial. Aqui no Brasil, essa luta apesar de não contar com o mesmo destaque na mídia, vem ganhando força. Bailarinos negros que não se deixam abater diante dos preconceitos e que lutam para criar uma identidade racial dentro da dança e alimentar a autoestima, tão lesada, de seu povo (destacamos o nome da jovem Ingrid Silva que não desistiu do ballet clássico e hoje integra o Dance Theatre of Harlen nos EUA).


Mercedes Baptista a primeira bailarina negra a ingressar no TMRJ


Existe, entretanto, um nome que na vanguarda brasileira já havia travado um duelo quixotesco para afirmar sua arte, sua cor e seu gênero. Falamos da desbravadora Mercedes Baptista, que foi a primeira bailarina negra a entrar para o corpo de baile do TMRJ. Só esse acontecimento nos meados do sec.XX, já seria digno de nota, de aplausos e reverências. Mercedes porém, foi além e desbravou o universo da dança afro como também contribuiu para o desenvolvimento da arte negra no seu país natal. Por este motivo, o Tour En L'Air não poderia deixar de lembrar dessa figura ilustre que não só soube se afirmar, como também mostrou ao Brasil e ao mundo que a cultura afro é linda, digna, cheia de paixão e magia e, acima de tudo, está na raiz do povo brasileiro.



Biografia de Mercedes Baptista escrita pelo professor da EEDMO Paulo Melgaço

Mercedes segurando sua biografia - Falecimento no dia 18 de agosto de 2014


Negar a cultura negra, é negar nosso passado e, portanto, nossa própria história. Em homenagem a Mercedes Baptista e a cultura negra, cultura que a EEDMO faz questão de agregar, repostaremos uma matéria feita por nosso aluno Luan Limoeiro (2° técnico) no ano de 2013 em virtude da condecoração recebida por Mercedes por seus serviços prestados à cultura brasileira, A Ordem de Rio Branco. Vejam abaixo:



Luan Limoeiro-  2º Técnico.

domingo, 15 de novembro de 2015

Conversando com: Adriana Salomão e Steven Harper

Conversando com: Adriana Salomão e Steven Harper


Adriana Salomão


Steven Harper


Na última quinta-feira, 22 de novembro de 2015, tivemos a honra de receber no “Conversando com...” duas figuras ilustres: Adriana Salomão e Steven Harper. Quem costuma ler nosso blog sabe que este é um projeto idealizado por professores da Escola de Dança Maria Olenewa. Esse projeto busca organizar palestras com importantes nomes da dança, visando inserir cada vez mais os alunos nesse mundo e dar-lhes a oportunidade de interagir com aqueles que já traçaram o caminho ou parte dele pelo qual também queremos seguir.



Steven

Adriana

Steven nasceu na Alemanha e cresceu na Suíça, posteriormente foi morar nos Estados Unidos. Um tempo depois voltou para a Suíça, onde fez faculdade de relações internacionais na faculdade de Genebra. Depois de um tempo veio para o Brasil, onde se apaixonou pelo país e por Adriana Salomão, sua companheira de dança e de vida. Criou a Cia. de sapateado Steven Harper, na qual faz parceria com cantores, compositores e percussionistas, pois gosta de inovar em seus trabalhos.


Steven Harper

Já Adriana nasceu e cresceu no Rio de Janeiro, é formada em educação física pela universidade Gama Filho. Já trabalhou e dançou em programas de TV, cinema, comerciais, shows e peças musicais. Atualmente participa da Cia. Steven Harper e da Cia. Nós da Dança e é professora de sapateado e jazz no Centro de Artes Nós da Dança.

Adriana Salomão - espetáculo Telas / Cia Nós da Dança

Além disso, ambos coreografam também para escolas de samba do Rio de Janeiro e adquirem grande reconhecimento em seus trabalhos.


O casal Steven Harper e Adriana Salomão

Adriana e Steven nunca foram bailarinos de apenas uma modalidade. Passaram pelo ballet, jazz, sapateado, dança moderna e outras. Tiveram a oportunidade de aprender e trabalhar com renomados professores, diretores e coreógrafos que os ajudaram a tornar tão completas suas formações. Pelo fato de seus corpos terem conhecido diversas linguagens, vêm carregados de informação, experiência e principalmente amor a dança, seja ela qual for. Durante a palestra Steven nos fez refletir sobre a importância da versatilidade do bailarino quando disse: ”Se você tem uma mala grande e sólida, um embasamento forte, você pode viajar longe e tem capacidade de passar mais tempo fora antes de voltar para a casa”.

Apesar de toda bagagem que possuem, atualmente ambos atuam com foco no sapateado. Produzem o festival Tap in Rio, que surgiu em 2002 e promove diversos cursos de excelência. Tivemos a oportunidade de ver uma pequena demonstração de sapateado realizada pelos dois e perceber a sintonia e a paixão que ambos exalam quando dançam.



É muito comum que os bailarinos clássicos fechem seus olhos para oportunidades que surgem por estarem focamos em somente um objetivo. Acabam não percebendo que a dança proporciona diversas vertentes e podemos explorar cada uma delas. Além do mais, conhecimento não ocupa lugar e nunca é demais.

Ao longo do ano tivemos a presença de diversos nomes da dança e encerramos com chave de ouro recebendo Adriana e Steven. Que ano que vem possamos continuar e crescer ainda mais com nosso projeto, que acrescenta tanto a vida de todos nós!




Algumas fotos do nosso evento, tiradas por nossa equipe neste ultimo conversando de 2015:


Adriana Salomão e Steven Harper

Foto oficial: Paulo Melgaço, Elizabeth Oliosi, Adriana Salomão, Steven Harper e Helio Bejani.

Adriana e Steven e nossos rapazes alunos da EEDMO.

Paulo Melgaço, Helio Bejani Adriana Salomão, Steven Harper, Elizabeth Oliosi e Formandas 2015.

Jéssica Ramos - 3º Médio

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Um Sonho a Caminho




Um Sonho a Caminho

Realização é o sentimento que representa cada bailarino formado pela EEDMO. Este ano a Escola Estadual de Dança Maria Olenewa tem o orgulho de formar nove jovens bailarinos para o mundo profissional da dança. Ana Carolina Castro, Bárbara de Freitas, Caroline Gil, Eric da Silva, Manuela Medeiros, Maria Clara Alves, Marina Duarte, Shantala Cavalcanti e Tâmara Dornelas, que buscam aperfeiçoar seus conhecimentos e transmitir todo amor e arte conquistados em seus anos de aprendizado.





Caroline, Manuela, Maria Clara, Shantala, Bárbara, Ana Carolina, Tâmara- Formandas 2015.

Dançar a coreografia “La barre” é o sonho de qualquer aluna EEDMO, desde a primeira vez em que o assiste. É um marco divisor de águas na carreira de uma bailarina, ele mostra a transformação da aluna para a vida profissional, selando a formação. Assim, o misto de orgulho, felicidade e dever cumprido definem a sensação de dançar “La barre”. Durante os nove anos de estudos, há sempre uma expectativa, então quando chega no último ano e o ensaio de “La barre” é anunciado, é o momento de refletir que realmente esta acabando esta jornada e iniciando a carreira profissional.


Eric da Silva - The National Ballet of Canada.



O Tour En L’air foi ouvir os formandos, e vejam seus sonhos e expectativas de futuro:


“A Escola me ensinou tudo. São 9 anos de muito aprendizado, além de minha formação profissional e artística. A EEDMO não ensina somente a como nos portar diante do mundo profissional da dança, ensina a sermos humildes, dedicados, fortes e o mais importante, nos faz enxergar a realidade. Meu plano para o futuro é ingressar numa Cia profissional no exterior, ampliar meus conhecimentos e crescer a cada dia mais como artista e pessoa.” – Ana Carolina Castro 

“Sinceramente, nunca me imaginei chegando até o terceiro técnico, só de pensar que se passaram nove anos, surge duas perguntas: “Será que conseguirei”? “Será que estou preparada”? Da turma que eu entrei, sou a única que continuei até o fim. Não foi fácil, mas tive garra para isso, hoje sou muito grata.” – Bárbara de Freitas “Durante o período próximo à formatura, há certa ansiedade, pois deve haver uma grande preparação tanto fisicamente quanto psicologicamente. A EEDMO tem um diferencial se comparada as outras escolas, principalmente com relação a disciplina. D. Maria Luisa Noronha, quanto os outros professores me ensinaram, além da parte técnica e acadêmica, a transparecer a alma de artista e transmitir emoção nos momentos em cena.” – Caroline Gil



Caroline Gil.


“Todos os professores são muito importantes na formação técnica e artística, desde o preliminar até o terceiro técnico, estes são essências para vida profissional de cada bailarina. Mas sempre tem aquele que se destaca “o padrinho e a madrinha”, que ensinam e cuidam de nós além da sala de aula. Não me sinto preparada 100%, pois a primeira proposta de trabalho será um novo recomeço, em que se faz necessário apresentar o trabalho técnico e artístico conquistado em todos estes anos de aprendizado.“ - Manuela Medeiros 

“Os preparativos para formatura são complicados financeiramente, mas é um momento tão esperado e especial para nós, que vale todo esforço e dedicação. Estudo na EEDMO desde o preliminar. Passei por todos os níveis e a escola acrescentou-me disciplina, amor, humildade, honra e muito conhecimento, da parte técnica, teórica, artística e principalmente profissional. Formo-me feliz, realizada e preparada para a vida profissional.” – Maria Clara Alvez “O respeito ao próximo, a superação dos obstáculos, disciplina trabalho em equipe são ensinamentos que adquirimos na EEDMO que serão levados para nossa vida pessoal e profissional.” – Shantala Cavalcanti

Shantala Cavalcanti.





“A Escola de Dança me acrescentou muito como artista, ensinou–me a aproveitar e valorizar os momentos preciosos em cena, sendo único e tornando especial cada um deles.” – Tâmara Dornelas






Marina Duarte - Academie Princesse Grace - Monaco 



Felipe Viana -3° Médio e Carla de Paula -2° Técnico

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Saúde do Corpo que dança– Fernando Zikan

Saúde do Corpo que dança– Fernando Zikan


A rotina de um bailarino é pesada e muito regrada. Nessa rotina se inclui muitas aulas de ballet clássico e outras que visam à melhora do condicionamento físico (Pilates, profilaxia, Yoga, ginástica, musculação, jump). Podemos então dizer que, hoje, um bailarino não é apenas um artista, mas também um “atleta”. E como todo “atleta”, precisa de um acompanhamento muito especializado no que diz respeito à alimentação, treinamento e tratamento (de possíveis lesões). Porém, o que acontece é que faltam profissionais especializados nessa área e nem toda Cia de Ballet ou Escola de Ballet tem um profissional à disposição para atender seus bailarinos de acordo com as necessidades da atividade.

Assim como um atleta não pode ficar muito tempo fora dos treinos para se recuperar de lesões (pois se perde tempo valioso de treino, o que interfere no resultado final), um bailarino também não pode, pois a competitividade no mercado de trabalho está cada vez maior e um mês fora de cena é o suficiente para se perder o papel tão sonhado. Por isso a cada dia mais uma procura por formas de prevenir lesões e tratamentos cada vez mais eficazes quanto ao resultado e o tempo de cura. Nesse ponto é que entra a fisioterapia como grande aliada da nova geração de bailarinos de alta performance.

Os avanços tecnológicos na área da fisioterapia tem garantido cada vez mais a saúde e a segurança para os bailarinos, que se sentem mais confortáveis para continuarem a trabalhar com força em busca de uma técnica cada vez mais refinada. Ainda há um déficit de profissionais especializados, mas a demanda é grande e aos poucos a oferta vai aumentando. As principais Cias de dança percebem, hoje, que é muito mais fácil e barato investir no tratamento de seus bailarinos lesionados do que no treinamento de substitutos e, por isso, que a presença de fisioterapeutas especializados vem sendo cada vez mais requerida nas Cias.

O Teatro Municipal do Rio de Janeiro, a Cia de dança mais antiga, tradicional e importante do país, já entende essa necessidade e conta a 10 anos com um profissional de alta qualidade para o tratamento de seus bailarinos, o Prof. Dr. Fernando Zikan (Chefe do Departamento de Fisioterapia da UFRJ, Mestre e Doutor pela UFRJ com tese relacionada à Ballet Clássico e Fisioterapia, professor de Cursos de Pós-graduação em Fisioterapia e Dança por todo Brasil e pesquisador atuando no Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro). O Tour em l’air chamou-o para uma conversa e ele com muita diligência nos contou um pouco dessa nova realidade.


Professor e Fisioterapeuta- Fernando Zikan



Fernando Zikan - Fisioterapeuta

Tour: Zikan, qual a principal função do fisioterapeuta em uma Cia profissional como a do Theatro Municipal do Rio de Janeiro?

Fernando Zikan: A atividade da fisioterapia em um Cia de Ballet clássico deve estar presente em todos os momentos de atividade deste grupo. As lesões podem ocorrer a qualquer momento, desta forma em aulas, ensaios, preparos, os bailarinos devem contar com o apoio de um fisioterapeuta atuando em três níveis: promoção da saúde (orientando e educando os bailarinos em relação a sua prática corporal), prevenção de doenças (orientado e intervindo para que estes não se lesionem) e reabilitação (na medida que exista alguma lesão ou incapacidade o fisioterapeuta possa atuar de maneira curativa), desde a sala de aula de balé até a sala de fisioterapia.



Tour: De que modo o fisioterapeuta pode ajudar no desenvolvimento do bailarino?

Zikan: A dança de um modo geral, e o balé em específico, é uma atividade corporal que exige muito do corpo de quem a pratica, tanto do ponto de vista físico como mental. Para isto o bailarino precisa se preparar para as atividades que irá desenvolver. Uma vez orientado de como deve executar suas atividades (com que frequência, com que cuidado, em quais amplitudes, em que posicionamentos, etc.) este bailarino estará melhor preparado para alcançar seus objetivos. Orientações em relação á prática de atividade física, alongamentos, fortalecimentos, correção de posicionamentos viciosos e posturas inadequadas são maneiras de atuarmos para que os bailarinos possam minimizar suas chances de se lesionarem e interromperem suas carreiras de forma precoce.

Tour: Quais as principais lesões que os bailarinos e bailarinas mais sofrem em função do trabalho? 

Zikan: De que modo essas lesões poderiam ser evitadas?
De acordo com um levantamento feito em minha dissertação de Mestrado em 2006 com a Cia do Theatro Municipal do RJ e em 2011 com alunos da Escola Maria Olenewa, Escola do Teatro Bolshoi no Brasil e Centro de Dança Rio, as principais lesões apresentadas são musculoesqueléticas provenientes das instabilidades articulares. Pela necessidade de fazer movimentos em grandes amplitudes as articulações dos bailarinos tornam-se instáveis do ponto de vista osteoarticular (frouxidão capsular e ligamentar) o que necessita para isto grande trabalho de força para conseguir estabilizar estas articulações e evitar traumas/lesões. Desta forma as lesões mais frequentes por este desequilíbrio entre mobilidade e força são as entorses, luxações, tendinites e os quadros de dores oriundos também deste desequilíbrio. As dores são mais frequentes nas mulheres que nos homens e estão presentes com maior frequência na coluna lombar, nos joelhos e pés.
Como dito anteriormente o que causa estas lesões são os desequilíbrios entre força e mobilidade, desta forma para evitarmos estas lesões devemos ter um cuidado muito grande nos ganhos de amplitudes articulares, ser mais móvel é ótimo para o balé, mas tem um preço alto a se pagar e para isto o bailarino deve fazer aulas regulares para manter seus músculos fortes, o que não basta. Este fortalecimento muscular deve ser implementado com prática de exercícios físicos regulares que potencializem a estabilidade articular e o controle corporal. Atualmente esta prática tem sido bem resolvida com um trabalho específico e correto, com técnicas específicas e orientadas por um profissional capaz para isto como o Pilates, Musculação com Treinamento Funcional e técnicas de fortalecimento de Cadeias Musculares.




"Uma companhia que possui profissionais orientando os bailarinos desde sua formação até sua vida profissional, tem grandes chances de ter um grupo de bailarinos mais capazes e bem orientados, daí a grande importância deste profissional neste cenário".



Luan Limoeiro - 2° Técnico

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Conversando com: Eliana Caminada

Conversando com: Eliana Caminada


No dia 22 de outubro, tivemos o prazer de receber a bailarina professora e pesquisadora Eliana Caminada no nosso programa mensal “Conversando com...”. Logo na apresentação da convidada o professor Paulo Melgaço disse que sempre são muito instrutivo e muito importante para um conhecimento sobre determinada pessoa, essas oportunidades só existem dentro da Escola de Danças.
Eliana Caminada teve seu primeiro contato com a dança, através de seu pai que foi um grande amante da arte. Ele, professor de inglês e formado em literatura, amava óperas, concertos e espetáculos de ballet. Aos 3 anos, foi levada ao Theatro Municipal para assistir Coppelia. Aos 5 anos, começou a fazer aulas de ballet na Escola Cultural de Artes com uma professora argentina, Dina Nova, indicada por sua prima, uma ex-bailarina. Após algum tempo, começou a ter aulas com Tatiana Leskova e com ela teve grande aprimoramento em sua técnica clássica. Foi lá que teve a indicação de fazer prova para a Escola Estadual de Danças Maria Olenewa, lugar que descobriria um pouco mais sobre o mundo da dança.


Eliana Caminada


Para ser bailarina precisaria ter uma convivência e disciplina, não havia lugar melhor para isso do que em uma escola de tradição. Ter a oportunidade de estar perto de grandes bailarinos, talvez ter a chance de conversar com eles, usar as salas do corpo de baile, isso é necessário para a formação de um bailarino. Foi na EEDMO que conheceu a história da dança, teve as primeiras aulas falando sobre esse assunto. Eram verdadeiras informações. Aulas de dança espanhola, composição teatral, aulas com grandes mestres como, Renée Wells, Consuelo Rios, Georges Ribailovski, Luíza Barreto Leite e Lydia Costallat. Tudo foi um acúmulo de informações, observações, comentários, levando-a a começar a viver, agir e ser bailarina. 

Fez prova para o 1º técnico e passou. Na prova de final de ano ficou decidido que pularia para o último ano técnico. Na época, esse último ano era feito um estágio com o Corpo de Baile do TMRJ onde teve certeza de que era isso que ela queria, apesar das dificuldades se acostumou rapidamente ao ritmo de trabalho e decidiu que era isso o que queria para a vida. Durante o estágio teve a chance de agir como comparsaria. Trabalhou no Theatro Municipal de 1963 até 1978. Em 1963, ingressou na companhia e em 1965, teve sua efetivação passando em 1º lugar no concurso.

Ao assistirmos parte do documentário sobre a vida da bailarina produzido pela São Paulo Cia de Dança, pedimos que contasse algumas histórias de vida desde a infância e a primeira que nos contou foi de quando ainda estava com sua primeira professora: "Dina Nova, minha professora quando ainda tinha 7 ou 8 anos, montou uma apresentação para o final de ano que se chamava, 'As duas sombras' inspirada no poema de Olegário Mariano, a música: um soneto de Petrarca, na minha época, com a minha idade, não sabia quem era, fui saber graças ao meu pai que explicou quem foram essas duas figuras importantes, dentro de casa. Descobri até que o poeta era um parente distante. Fiquei sabendo dessa informação a 60 anos e ainda não esqueci, para verem como marcou. No ano seguinte, Dina Nova montou uma nova coreografia com música de Bach, seu pai, mais uma vez estava lá para ajudá-la, explicou quem foi esse compositor contando como foi uma pessoa decisiva na história da música.”


Eliana Caminada, no centro, com as formandas 2015 e os professores Paulo Melgaço e Beth Oliosi.


Após sua longa carreira como bailarina, decidiu seguir carreira dentro dessa arte e virou professora e pesquisadora da dança. E todos que estavam presentes tinham a curiosidade de saber como havia sido essa decisão e qual foi o caminho que percorreu até seu primeiro livro. "A primeira coisa que me orientou pra ser historiadora da dança foi a família, os meus pais, que me apresentaram ao mundo, um mundo que considero mágico, que se distância do mundo real, mesmo com problemas na vida, seja em casa ou na vida social, a profissão e paixão do bailarino por sua arte sempre vem antes, o lado de fora, o tempo, o trânsito são esquecidos. Penso que é e foi muito importante para todos, para mim, pais de vocês, filhos de vocês, a bagagem artístico-cultural que vem de casa. A troca de pai para filho, filho para pai, pois houveram muitas mudanças em pouco tempo, saímos de um mundo onde a tecnologia é o mais importante. É necessário sorte e informação para chegar ao ballet e felizmente eu tive os dois. Concluindo: Tudo isso graças a vida ao lado de meus pais, todos os livros que li foram me dados em minha mão por meus pais. Acho que a minha formação começou aí, passar a conhecer a cultura geral desde muito nova."


Eliana Caminada respondendo às perguntas de nossos alunos.


Para encerrar a Palestra, dando jus ao seu título, as pessoas que estavam lá fizeram suas perguntas:


Tour: Durante sua careira, qual foi o ballet que mais gostou de fazer?

Eliana Caminada: Ao dançar coppelia, fiquei profundamente emocionada, e isso foi até um pouco perigoso, fiquei desestabilizada. Foi o primeiro ballet que assisti então estava muito feliz. Fiz questão de dançar com um laço na cabeça como na versão que tinha visto. Também posso destacar Giselle, dancei em dois momentos diferentes de sua vida: na primeira vez, recebi críticas dizendo que eu entrava triste desde o início do primeiro ato. E, felizmente, na segunda interpretação, mudei completamente. A dança foi traiçoeira até porque reflete o seu interior. Dancei muito mais alegre. Romeu e Julieta, também foi muito bom ter dançado, a chance de dançar aquilo que assistiu é maravilhoso. A 5ª Sinfonia de Tchaikovsky, dancei no corpo de baile e fui muito feliz pois adorava e me sentia completa no palco. Dancei o 1º, 3º e 4º movimentos. E contou que em um dos dias estava assistindo tão maravilhada que perdeu a noção do tempo e esqueceu de mudar de roupa do 1º ao 3º, porém conta rindo.


Tour: A senhora já teve a curiosidade ou vontade de dançar fora do país?
E.C: Tive, sim, a oportunidade. Durante a temporada de “Les Sylphides” no Theatro Municipal, o diretor da Ballet da Ópera Estatal de Munique-Bayerische Stats Opera assistiu ao espetáculo e gostou de mim. No dia seguinte, eu estava dando aulas para alunos da EEDMO em uma das salas do corpo de baile, quando o diretor que havia ido visitar as instalações do Theatro por dentro, entrou na sala. Ao me reconhecer perguntou se não queria fazer uma audição. Aceitei. Não tinha nada a perder, certo? Ele marcou e fui fazer uma aula de ballet para que ele pudesse assistir. Quando ele perguntou se eu aceitaria um contrato como solista da Ópera de Munique, juro que não acreditei que fosse chegar. Não é que o contrato chegou? Assinei com salário fixo e foi para Munique um ano depois. Entre a chegada do contrato e a minha ida, tive uma tendinite e fiquei parada alguns meses. Quando eu cheguei lá, pensei que estava completamente boa e voltei com tudo, porém com o decorrer das fortes rotinas, com ensaios durante o dia inteiro, a tendinite inteira voltou. A companhia queria me mandar para outro país para curar. Mas eu não aceitei, a saudade também já estava ficando grande e resolvi voltar ao brasil.


Tour: Qual a importância da existência da faculdade de dança e uma formação acadêmica?

E.C: Pela minha experiência durante a faculdade, os cursos superiores de dança são de extrema importância. A única coisa que mudaria é que eu limitaria a faculdade para alunos que já tivessem um conhecimento sobre a dança, que fosse um bailarino e a faculdade somente complementaria seus conhecimentos, os aprofundando. O curso em uma universidade não forma a arte de cada um, não forma um bailarino, pode preparar professores mas especializado para pessoas com alguma base e conhecimento na dança. A formação acadêmica depende do foco. Uma coisa que vem acontecendo com o ballet clássico é: está sendo tão teorizado que não conseguimos chegar ao objetivo final que é transmitir as ideias. É necessário discutir a ideia do ballet na vida, pensar na ajuda e diferença que o ballet pode fazer na vida de crianças, a inclusão em círculos sociais, não criando a ilusão de que são bailarinos mas apresentando um mundo delicado para crianças que muitas vezes são excluídas, seja dentro de casa ou entre colegas de escola, por exemplo. Vivem no mundo atual e a violência está presente no cotidiano, o ballet é uma arte de extrema importância e tinha que estar presente nas escolas. a presença da dança no padrão cultural precisa ser discutido. A dançarina não é valorizada e está sendo substituída para dar lugar para outras classes da arte. A dança é desprezada e isso cabe a nos mudar. Venho da época em que bailarinos eram chamados e considerados burros, éramos somente o físico para quem olhava de fora. Se eu conseguir construir carreira com mais tantos outros bailarinos, todos vocês conseguirão. Os tempos mudaram, nós finalmente estamos começando a receber os créditos de tanto trabalho.


A equipe do Tour en L’air agradece a essa grande oportunidade, de ganhar um pouco mais de conhecimento. O nosso “Muito Obrigado” a Eliana Caminada em nome de todos que estavam presentes em mais um: “Conversando com...”


Tabata Salles