Manoela Gonçalves
Mesmo em turnê, concedeu-nos uma entrevista muito interessante sobre sua trajetória na dança, contando um pouco de suas experiências e dando seus valiosos conselhos. Manoela foi a luta e fez dar certo, hoje, diz que não possui medo nenhum de mudar de uma hora para outra, pois põe como única regra da vida: “SER FELIZ!”
Manoela Gonçalves |
Segue nossa entrevista:
Tour: Como foram seus anos na EEDMO? Sua turma foi uma das que mais tiveram aulas com a professora Jacy, de que forma esta mestra contribuiu para sua formação?
Manoela Gonçalves: Todos os professores da escola foram importantes para a minha formação. A que mais esteve presente foi a professora Jacy, que nos acompanhou pelos nossos últimos anos de escola até a formatura em 2008. Pessoalmente, foi essencial para mim, pois com ela desenvolvi um trabalho de ponta único.
A Jacy é uma ótima professora e uma pessoa muito querida, sempre que tenho tempo volto nas férias para fazer uma aulinha.
Tour: Como foi sair do Brasil tão nova? Quais as principais dificuldades que encontrou fora do país e de que forma sua preparação como bailarina na Escola de Dança te ajudou a superar essas dificuldades?
M. G: Sair do Brasil ainda menor de idade foi ao mesmo tempo uma experiência assustadora e empolgante. A parte do susto melhorou logo após a primeira semana e a empolgação cresce até hoje. Tem muita gente que não consegue mudar, sente muita saudade de casa ou não consegue se adaptar, eu acredito que isso depende muito do perfil de cada um. Eu amo viajar, amo desafios e adoro o frio na barriga antes de qualquer mudança. A saudade existe, é lógico, e o meu coração está em vários lugares ao mesmo tempo, por exemplo: quando estou no Brasil de férias sinto falta de coisas da Alemanha, ou de antigos amigos de Londres... Acho que é uma coisa muito pessoal e não é fácil para todos, mas eu amo! Muitas meninas um ou dois anos mais velhas que eu na EEDMO, já haviam se mudado para escolas ou companhias no exterior e acredito que isso pode ter me ajudado a perceber que sair do país não seria nenhum “bicho de sete cabeças”.
Manoela Gonçalves na capa do livro de 85 anos da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa. |
Tour: como foi sua trajetória até chegar na cia que você se encontra?
M. G: Eu viajei para o exterior pela primeira vez para um festival em Nova York, o YAGP. Foi tudo muito novo e eu não estava preparada, mas tirei coisas positivas dessa experiência. Meses depois eu fiz o Summer em San Francisco, e claro, aconteceu aquele choque cultural, além de ter sido a primeira vez que eu fiquei sozinha por um longo período. Eu tive a sorte de receber uma bolsa para o English National Ballet School e me formei no segundo ano da escola. Em Londres aprendi muitas coisas e me apaixonei loucamente pela Europa além, de ficar viciada em viajar. O plano era voltar pro Brasil depois de formada e entrar na faculdade, me formar e parar com a dança. É claro que não consegui. Fiz audições por lá e trabalhei por alguns meses em Dortmund, na Alemanha. A companhia tinha um repertório bem legal, mas eu não gostava da cidade e não estava tão feliz por lá.
Logo no meu segundo mês trabalhando, Christian Spuck que seria o novo diretor da companhia de Zürich na Suíça, foi montar um de seus ballets com a gente e acabou me oferecendo um trabalho para a sua primeira temporada como diretor. Eu aceitei na hora e assim que terminou meu contrato em Dortmund, me mudei para a Suíça. Fiquei dois anos na companhia e ano passado fiz uma audição para Munich, onde trabalho atualmente.
Tour: Poderia nos contar um pouco mais de sua carreira, os ballet mais importantes que dançou, os profissionais com quem trabalhou, os lugares onde dançou, os momentos importantes que viveu...
M. G: Essa é a maior companhia que já trabalhei, e dançar com personalidades como Lucia Lacarra ou Polina Semionova, ainda é estranho as vezes, mas bastante gratificante.
Eu tive a sorte de dançar ballets e papéis incríveis logo no meu primeiro ano, mas pretendo focar a minha carreira para um lado não tão clássico no futuro. Ano que vem, a companhia irá dançar Pina Bausch, e eu estou extasiada com essa oportunidade. Só por ter tido a chance de conhecer e trabalhar com uma variedade de bailarinos já vale muito apena. Ter dançado Jiří Kylián, Stephan Toss, e Balanchine foram sonhos realizados além, de fazer parte do processo criativo com o Christian Spuck e recentemente em Munique criações que eu amo do Richard Siegal que mistura Forsythe, com hip-hop, capoeira e música eletrônica. Sem falar de muitos clássicos que dancei, mas confesso que não são os meus favoritos. Trabalhar com diferentes estilos, coreógrafos, diretores e mestres de ballet abre muito a nossa mente como artista. São novas, melhores e inovadoras formas de movimento.
Ao lado de Manoela esta Sophia também formada pela EEDMO, e que trabalha na Alemanha. |
Tour: Quais seus planos para o futuro?
M. G: Eu odeio a ideia de não ousar ou não poder mudar de ideia em cima da hora. Eu estou bem focada na minha carreira hoje, mas tenho planos fora do ballet relacionados a artes, mas não necessariamente ligados à dança... Quem sabe?
Tenho a sorte de fazer o que me faz feliz e, enquanto isso funcionar e for gratificante, eu foco nisso.
Tour: Morando na Europa, viajando muito e estando atenta ao mercado de trabalho da dança, quais as principais diferenças em comparação com o Brasil? Você acredita que para os brasileiros, buscar uma oportunidade de trabalho fora do país ainda é a melhor opção?
M.G: Eu saí do Brasil muito cedo então não posso fazer comparações profundas já que nunca trabalhei aí, e não gostaria de generalizar. Existem companhias pequenas, grandes, contemporâneas, clássicas, mistas e que viajam pouco ou muito. Uma diferença pode ser que fora do Brasil, normalmente, as companhias tem um leque maior de repertório e um número maior de espetáculos e dependendo do país, a segurança financeira é bem maior.
De novo, acho difícil comparar... Acho que existem muitos talentos brasileiros dentro, e principalmente, fora do Brasil (em toda grande ou pequena companhia pelo mundo você encontra um brasileiro). A escolha de sair ou não do país é muito pessoal e envolve muitos fatores.
Pra quem pensa em ir pra fora, meu conselho é: Vá! Existe um mundão lindo e cheio de gente querendo ver a sua arte e conhecer o seu trabalho. Você vai trabalhar muito e vai ter uma competição absurda, mas ouvir um “NÃO” uma vez ou outra, não mata ninguém (dentro ou fora do Brasil).
Tour: Qual conselho que você daria para os jovens que estão ingressando agora no mercado de trabalho da dança como bailarinos?
M. G: A dança é uma carreira curta, difícil e bem intensa, mas pode te levar a lugares maravilhosos e abrir os seus olhos para um mundo novo, cheio de arte, pessoas diferentes e culturas diferentes. A dança me levou a ver e fazer coisas que eu não faria e isso tudo me modificou intensamente como pessoa e artista. A chave é tirar tudo de positivo das oportunidades e escrever a sua história. Não se espelhar na arte de ninguém, se esquecendo da sua. Fazer o que te deixa feliz sem regras, essa é a única regra. Isso vale como conselho?
Lembrar de, nunca deixar de se alongar, mesmo e principalmente depois de velha!
Haha! Vou sofrer mês que vem, Luan!!!
Manoela sem perceber, prestou-nos um imenso favor, com seu exemplo e seus conselhos. Temos a certeza que com essas informações e com as esperanças renovadas que estamos depois de ler essa entrevista, poderemos traçar roteiros mais seguros para nossas carreiras. A regra é: SER FELIZ!
Luan Limoeiro
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