quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Conversando com André Cardoso




Nossa casa tem passado por uma série de renovações, dentre elas, a mudança da direção artística, que agora está sob responsabilidade do maestro André Cardoso. Nosso atual diretor também dirige a Escola de Música da UFRJ e preside, até o final desse ano, a Academia Brasileira de Música(ABM). André Cardoso é violinista e regente graduado pela Escola de Música da UFRJ, com Mestrado e Doutorado em musicologia pela Uni-Rio; além disso, aperfeiçoou-se na Argentina na Universidade de Cuyo e no Teatro Colón de Buenos Aires. Já atuou em orquestras como a Sinfônica Brasileira, Orquestra Petrobrás Sinfônica, Orquestra Nacional de Brasília, Orquestra Sinfônica da Paraíba, entre outras. Ao longo de sete anos trabalhou com a Orquestra Sinfônica do nosso Theatro(TM), atuando como maestro assistente, onde dirigiu produções como os ballets “ Copellia”, “Gisele”, “La fille mal gardée, “ Le Sylphide”, além de concertos sinfônicos. Cardoso também se dedica a pesquisa, tendo como foco a música brasileira dos séculos XVIII e XIX. Fora os diversos artigos publicados em importantes veículos nacionais, lançou alguns títulos que foram muito bem recebidos, como: “A música na Capela Real e Imperial do Rio de Janeiro”, em 2005, e “ A música na corte de D. João VI”, em 2008.




Para entender o pensamento e as novas perspectivas da direção artística, o Tour traz uma conversa com Andrè Cardoso, onde são expostas as novas propostas, assim como o lugar da Escola de Dança Maria Olenewa nessa nova configuração.

Segue entrevista:

Tour en L´air: Sendo um educador por formação e estando a frente da direção da escola de música da UFRJ por um relativo tempo, gostaríamos que nos desse sua opinião sobre a importância do Theatro Municipal possuir uma escola de dança que a anos vem abastecendo o corpo de baile da casa.

André Cardoso: Eu acho que um organismo como o Theatro Municipal tem uma papel não só de ser fomentador de temporadas artísticas para a populacão do estado do Rio, mas tem também uma grande função formativa. A EEDMO é o seu aspecto mais visível: saem do Maria Olenewa provavelmente a maior parte dos bailarinos que integram o nosso corpo de baile desde que a escola foi fundada. O Theatro já teve, por exemplo, a Escola de Canto Carmen Gomes que tinha a mesma função da Maria Olenewa, e que formava os conjuntos de ópera. Eu acho que isso precisa ser uma política do Theatro, ou seja, de formar os profissionais que no futuro estarão aqui nos postos dos corpos artísticos, porque isso faz parte de uma tradição da nossa arte, tanto do ballet, da música, do canto, ou seja, esse relacionamento do discípulo com o mestre. Você recebe toda uma tradição que é secular, isso só se consegue com esse papel de formar as pessoas nessa tradição do Theatro , da tradição artística do Theatro Municipal; então, eu acho fundamental.

Tour: Nossa escola possui seus eventos próprios, mas com exceção dos espetáculos de aniversário do Theatro e encerramento do ano letivo, não possui muita integração com a programação anual da casa. Existe algum tipo de interesse da nova direção utilizar mais a escola para integrar as programações artísticas?

A.C.: EXISTE. Já entreguei ao presidente da Fundação (João Guilherme Ripper) duas propostas: a da criação de um estúdio de ópera a jovens cantores- seriam residentes do Theatro Municipal- e a formação de uma orquestra acadêmica, ou seja, uma orquestra jovem. Junto com a EEDMO, eu acredito que essas três formações: o corpo de baile jovem, a orquestra jovem e cantores de ópera residentes, podem fazer uma temporada própria de concertos, óperas e ballets, ou seja, a gente tendo uma orquestra acadêmica, essa orquestra pode ser a orquestra para fazer espetáculos com o corpo de baile jovem. Essas propostas já estão com o presidente, obviamente precisa ser estudado como será viabilizado em termos, não só de recursos financeiros, mas também de uma maneira como esses organismos vão se inserir na atual configuração do Theatro Municipal, mas é um projeto da direção. Tanto eu quanto o presidente da fundação, João Guilherme Ripper, somos da educação, ele também é professor da escola de música da UFRJ, então sempre vai passar por nós essa questão formativa porque nós achamos importante. Eu espero que a gente consiga viabilizar isso já pra temporada de 2016: cantores, bailarinos e instrumentistas jovens.

Tour: O país passa por uma crise econômica em vésperas de sediar um evento de proporções mundiais como as Olimpíadas e é claro que, de alguma forma, o setor de cultura sofre algumas perdas de investimento. Como a direção planeja driblar a crise sem contudo perder a qualidade, e pelo contrário, revitalizar a programação apresentada pelo TMRJ?

A.C.: Eu acho que esse caminho a gente já apontou quando divulgou a temporada do segundo semestre de 2015, ou seja, em três semanas que, tanto eu quanto o presidente Ripper, conseguimos formatar uma programação com 4 óperas, 2 ballets e alguns concertos. Como gente fez isso: vendo exatamente a dificuldade, a falta de recursos e a premência de se colocar uma pauta no Theatro em que os corpos artísticos saibam o que vão fazer até o final do ano (isso é fundamental pras pessoas se planejarem), nós partimos pra parcerias. Então, trouxemos uma produção de Ópera do Palácio das Artes de Belo Horizonte, outra da Ópera do Theatro São Pedro de São Paulo e outra da Buenos Aires Lírica que é uma companhia argentina. Isso fez com que os custos caíssem aproximadamente quarenta por cento. Se nós fossemos produzir tudo aqui, certamente não conseguiriamos fazer quatro óperas. Então, utilizar essas parcerias, conexões com o mundo da Ópera e do Ballet de outros países e cidades é esencial, inclusive, para se fomentar o mercado, ou seja, criar mais oportuidade para que as pessoas trabalhem: coreógrafos, figurinistas, maestros, cantores, bailarinos, todo mundo depende desse ato, e já temos para a temporada de 2016, uma parceria feita com o Theatro Municipal de São Paulo, do qual vamos trazer uma produção de ópera deles e em 2017 uma produção nossa vai fazer parte da programação de lá. Isso vai valer nao só para óperas mas também para os ballets, levando a nossa Companhia para o Theatro Municipal de São Paulo( isso também está sendo tratado nos detalhes mas já esta acordado). Então, é dessa forma que a gente pretende, nesse momento de crise, manter o Theatro vivo e apresentando aquilo que ele tem que fazer: Ópera, Ballet e Concerto.

Tour: A programação do nosso segundo semestre está agitada, trazendo várias novidades e espetáculos que integram os três corpos artísticos do Theatro (coro, orquestra e ballet). Além de incrementada com novas montagens, nossa agenda passou por uma flexibilização de preços e horários que ajudam a diversificar nossa plateia e fazem com que a mesma cresça. Você diria que a busca por uma programação mais dinâmica e acessível será uma das metas principais de sua gestão?



A.C.: Eu acho que a gente tem que ter, antes de tudo, a certeza de que o Theatro Municipal é um teatro público, sendo um teatro público, ele tem que oferecer pra população aquilo que a populaçao quer e exige. O Theatro é sustentado pelo dinheiro do contribuinte do estado inteiro, não é so do município do Rio, tem uma diferença, por exemplo, do Theatro Municipal de São Paulo ou do Colón de Buenos Aires que são teatros efetivamente municipais. O nosso tem essa característica: chama-se municipal mas é do estado. Então, o cidadão do Norte Fluminense , do Sul Fluminese, da região Serrana, com seu imposto, sustenta o Theatro Municipal. Então, temos que ter mecanismos para levar nossa programação também pra esse cidadão do estado. Isso passa pelo estabelecimento de políticas que visem oportunizar, inclsive, o acesso de pessoas que nunca puderam assistir a um espetáculo de ópera ou ballet, ou mesmo um concerto sinfônico; que esse povo possa vir ao TM e que ele ofereça uma programação que atenda todo o tipo de público. Uma politica cultural efetivamente democrática tem que apresentar desde os “blockbusters”, aquilo que ja é parte do repertório tradicional- óperas com Carmen, La Bohemia, La Traviatta, um Lago dos Cisnes, um Quebra Nozes, que todos esperam no final do ano- mas a gente tem que propor coisa novas também, fazer com que a arte não se apresente de uma maneira congelada no tempo; a arte é uma coisa viva. Então, temos que apostar em novos títulos, em produções que tragam uma novidade, e tudo isso atendendo aos diferentes níveis da população. É importante estabelecer uma série de concertos em horários diferenciadosas, às vezes pra um público diferenciado. O domingo no Municipal, que vai voltar ano que vem, se presta muito a isso: são espetáculos de preço acessível, num dia e num horário que as pessoas não estão trabalhando, ou seja, podem vir ao Theatro Municipal. Então, tem que haver investimento numa diversidade de programação.



Tour: Uma das reinvidicações do corpo artístico e sobretudo do corpo de baile é que eles possa se apresentar em mais temporadas e temporadas mais longas. Sabendo que nos principais Theatro internacionais o corpo de baile dança um número muito superior as 5 ballets por ano e com temporadas muito mais longas do que 9 récitas, o Theatro tem o planejado aumentar o número de temporadas e o número de récitas por temporadas?



A.C.: Estamos trabalhando na temporada de 2016; estão previstos para 2016 seis ballets, já é um movimento considerável nessa média que vinha nos últimos anos. Dentro dessas seis produções previstas, nós temos ballets que vão ser dançados pela primeira vez, obviamente eu ainda não tenho como divulgar porque as coisas não estão fechadas, mas a gente está trabalhando com a nova direção do ballet, e ai é importantíssimo termos duas figuras emblemáticas do mundo da dança como Ana e Cecília (Ana Botafogo e Cecília Kerch) como nossas parceiras. Mas eu já posso garantir que no ano que vem o ballet vai apresentar um maior número de produções, serão seis e bem diversificada, com títulos tradicionais, clássicos, mas também apostando em novas coreografias, trazendo novos coreógrafos pra que a dança ocupe o espaço da programação que ela merece.


Tour: Há 10 anos a Escola possui um boletim informativo(o tour en l´air), como você vê essa mídia de divulgação interna e qual a sua importancia? Você acha que essa meio poderia ser ampliado e passar a estabelecer uma maior integração com a própria divulgação da casa?



A.C.: Claro, certamente. Eu acho que todos os mecanismos que nós tivermos de divulgação da programação são importantes. Como é um periódico que se destina a um público específico, o público da dança, ele é fundamental para a divulgação das nossas produções de dança como também para o mundo da dança conhecer óperas e concertos. Então, essa interação da programação artística, da direção artística com o periódico Tour en L´air é muito bem-vinda. Podemos ter uma boa divulgação dos espetáculos através dele, como também, ser uma maneira de você refletir sobre aspectos muito importantes da arte da dança através dele, de artigos, entrevistas, com a série de possibilidades que um periódico proporciona.


O Tour agradece à direção pela solicitude e disponibilidade!



Malu Patury


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