domingo, 19 de junho de 2022

O Corsário: realizando sonhos e criando novas expectativas.



 A EEDMO tem um papel essencial na minha profissionalização como bailarina e em muitos dos aprendizados éticos e morais que fazem parte da minha vida fora dos palcos. Me formei na turma de 2018 e, com muito prazer, foi também o ano de criação e primeiras atividades da Cia BEMO - TMRJ, cia. jovem que permitiu alguns dos meus primeiros contatos com montagens de repertórios clássicos completos como Giselle e Don Quixote.

Fazer parte da Cia BEMO -TMRJ e crescer nesse ambiente de ensinamento, trocas e desafios foi e ainda é importante no desenvolvimento da minha carreira, pois tive a oportunidade de estar em corpos de baile com diferentes estilos, além de trabalhar em papéis de solistas com maiores dificuldades técnicas e me levando a estudar personagens com características únicas. Por isso, sou grata ao Hélio Bejani e Jorge Texeira por confiarem em cada um de nós e nos levarem a diversos palcos desse país!


Estar em mais uma produção da nossa cia. jovem é a realização de objetivos pessoais, mas, mais que isso, é orgulho de ver o lugar que estamos conseguindo alcançar como companhia. É de muita felicidade ainda dividir os ensaios e o palco com meninas que se formaram comigo na Escola de Danças porque crescemos e acreditamos juntas, além de ser incrível poder estar presente com meninas que agora estão estreando e começando a trilhar seus próprios caminhos ao chegar nos anos técnicos da Escola.


 
O ballet “O Corsário” tem ensinado tanto sobre arte, estilo e história! É de uma felicidade enorme poder fazer parte da primeira montagem completa desse ballet com bailarinos brasileiros no Brasil e me sinto ainda mais realizada por estar no papel da Gulnara no palco do nosso Theatro, personagem essa que me ensina a importância de trabalhar para alcançar uma técnica firme e segura combinada a momentos artísticos diferentes e pontuais com a doçura e força apresentada por essa jovem escrava vendida ao Paxá no mercado da cidade.
Na expectativa do processo seletivo que acontece ainda nesse mês de junho para o corpo de baile do TMRJ, trabalhamos pelo melhor da cultura do estado e país, nos dedicando diariamente para trazer mais anos gloriosos a história do templo de arte do Rio de Janeiro.

Tabata Salles

terça-feira, 17 de maio de 2022

Corpos negros na dança clássica

 

Consuelo Rios

Entende-se que o ballet está imerso por uma concepção de beleza relacionada a um modelo de corpo e a um comportamento associado à técnica clássica. Ultrapassar os limites do estereótipo é fundamental para valorizar e democratizar a dança a todos os corpos, raças, gêneros que desejam fazer parte dessa forma de expressão tão linda, porém preconceituosa. É importante questionar onde estão as bailarinas negras e atentar-se que a presença ou ausência delas nos palcos é uma construção histórica, cujos resquícios se perpetuam na contemporaneidade. Para almejar determinado lugar é necessário se ver representado. Qual seria a importância de uma professora de ballet negra? A busca por referências, especificamente no ballet clássico, é uma maneira de dar visibilidade e protagonismo a essas artistas, como também entender que apresentar novas expectativas é primordial para contribuir com a construção de novos paradigmas.

Assim, buscamos tematizar sobre como o corpo feminino negro foi excluído e apagado das práticas promovidas por instituições dessa modalidade da dança que, operando saberes e poderes privilegiou corpos normatizados brancos, criando um estereótipo de

Bailarina “perfeita”.

 

Representatividade negra no Ballet Clássico

Atualmente, a visão que se tem da bailarina ainda é uma visão idealizada, do período romântico, como um ser perfeito, fragilizado, intocável, jovem, bela, magra e delicada. Esse corpo não só é imaginado pelo senso comum, mas também perpetuado por professores de ballet que orientam suas alunas, disciplinando-as para permanecer de acordo com esse estereótipo. Percebe-se que a busca pelo perfil da bailarina, composto por corpos de origem europeia e de olhos claros, é contraditório ao se ter como realidade o Brasil, com a maioria da população sendo negra.

Nesse contexto, há ausência de personagens negras protagonistas. São muitas histórias documentadas e registradas e nenhuma delas traz consigo um protagonismo negro. A grande parte dos contos nos quais os balés de repertório se baseiam são de escritores brancos e de momentos históricos em que as histórias são contadas pela ótica de uma população burguesa em ascensão. Entre as histórias estão: O lago dos cisnes, o Quebra nozes, Dom Quixote, Coppélia, em nenhum desses uma menina negra se apresenta como protagonista.

A imagem estereotipada que se desenvolve ao que se acredita que deve ser um bailarino, exclui meninas e meninos interessados na técnica clássica, mas que não se veem representados por serem fora do padrão.

Os bailarinos negros são inúmeros, extremamente capazes, mas o racismo ainda dificulta o acesso dos mesmos aos espaços da cena profissional e isso se torna visível na presença de poucos bailarinos negros em grupos profissionais. Com isso devemos não ignorar essa realidade, mas abrir um olhar para esse cenário de forma reflexiva.

A companhia Dance Theatre of Harlem com uma proposta originada e dirigida por Arthur Mitchell, tem como protagonistas bailarinas negras e negros. Em seus repertórios, eles são os principais e a companhia ressignificou diversas remontagens de balés de repertório com os personagens sendo negros, servindo como exemplo para o protagonismo afro descendente nesse cenário.

Arthur Mitchell

Jovens negros deveriam acessar o ensino de balé clássico, que lembre que eles existam e os vejam como possíveis profissionais, possibilitando um futuro artístico que possa ser traçado pelos mesmos. O sonho se torna possível quando ele é imaginado. O que não se pode esquecer é um legado de bailarinas negras brasileiras que marcaram o mundo da dança por suas pesquisas e sua expressão em cena. Grande parte delas ainda não possui o reconhecimento que merecem, mas, a partir do momento em que elas são citadas, a história delas permanecem vivas.

Independentemente do talento, da vocação, das habilidades físicas, uma bailarina não pode sonhar com o mais alto posto da maior companhia de dança clássica do seu país por causa da cor da sua pele e isso é preocupante

 

Referências Negras
Elas abriram caminhos para outras bailarinas que hoje conseguem uma notoriedade que suas antepassadas nem sempre conseguiram:

         Consuelo Rios: se tornou uma das principais professoras de ballet do País, Consuelo foi tentar concorrer às vagas do Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, mas não foi sequer aceita para fazer a prova, apesar da sua excelente técnica clássica, pelo simples fato de ser negra. Consuelo, então, não entrou no corpo de baile do Municipal, mas decidiu estudar muito para se tornar uma boa professora. Mais do que isso: se tornou uma das principais e melhores professoras de ballet que o nosso País já teve e por suas mãos passaram gerações de primeiras bailarinas e de bailarinas do Municipal e do exterior.

         Mercedes Baptista: Foi a primeira negra a fazer parte do Corpo de baile do TMRJ. Por ser aluna da escola não pode ser impossibilitada de fazer a prova, portanto a fez e passou. Para ela, infelizmente, entrar no corpo de baile não iria significar se tornar uma bailarina atuante nos palcos. De fato, ela não foi tão atuante assim. Só participou de ballets nacionais pelo TMRJ e nunca de ballets de repertório. Dança, para ela, só as aulas da escola.



 

Outros nomes importantes:

         Katherine Dunham

         Arthur Mitchell

         Misty Copeland

         Precious Adams

         Janet Collins

          Raven Wilkinson

         Lauren Anderson

         Céline Glitens

         Michaela DePrince

         Bethania Gomes

         Bruno Rocha


     Gabriela Branco, Esther Verta e Tálita Vitória (Formandas 2022)



quinta-feira, 21 de abril de 2022

“Entrei para a galeria de formados pela EEDMO”

 “Entrei para a galeria de formados pela EEDMO”


Ser formado pela Escola Estadual de Danças Maria Olenewa vai muito além de receber um diploma ao final dos longos 9 anos de formação. É ter a honra de carregar o nome da escola onde grandes artistas passaram e trilharam caminhos de sucesso. Junto com o diploma, está inserida toda a bagagem cultural, disciplina, responsabilidade e outros valores que são adquiridos no decorrer da formação. Todo o aprendizado conquistado na escola é levado para a vida, independente do caminho que os alunos escolham seguir.

Grandes nomes que compõe o quadro de formados da escola, hoje brilham no  mundo a fora, tais como: Roberta Marquez (primeira bailarina do Royal Ballet), Cícero Gomes (primeiro bailarino do Theatro Municipal do Rio de Janeiro), Marcia Haydeé (que foi a grande estrela do Stuttgart Ballet), Isabel Seabra (primeira bailarina do Teatro Scala de Milão), entre muitos outros. Pelo Brasil também há muitos nomes que passaram pela EEDMO e seguem brilhando em todo o país, especialmente no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Alguns deles são: Claudia Mota (1990), Deborah Ribeiro (1993), Rachel Ribeiro (1994), Priscila Mota (2000), Carla Carolina (2007), Juliana Valadão (2007) e Liana Vasconcelos (2008). Vale ressaltar também os ícones Márcia Jaqueline, que aos 14 anos começou a estagiar no TMRJ, sendo contratada aos 17; e Nora Esteves, que se formou pela escola em 1963 e foi promovida a primeira bailarina com apenas 17 anos.

Todavia, a escola não forma apenas bailarinos, forma artistas que seguem fazendo sucesso nas diversas áreas em que atuam. As atrizes Bibi Ferreira, Eva Tudor, Marília Pêra, Ângela Vieira, Danielle Suzuki e o carnavalesco Joãozinho Trinta também foram alunos da instituição. 

La Barre - Formandas EEDMO 2021

Ao se formar na Maria Olenewa, concretizamos uma das etapas mais importantes de nossas vidas, e damos início a um novo ciclo repleto de transformações e aprendizados, carregando sempre toda experiência adquirida ao longo dos anos de estudante. Sentimos a honra e a responsabilidade que é tornar-se ex-aluna de uma das mais importantes escolas de dança clássica no país; e entrar para o quadro de formados, tendo o nome ao lado de grandes ícones da dança e da arte é um enorme privilégio que ficará marcado para sempre em nossa história.

                                                          
Na foto, a primeira artista do Royal Ballet formada pela EEDMO, Letícia Stock.

Na foto, a primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Márcia Jaqueline.


















Giuliana Teixeira – 3º técnico
Lorena Nery – 3º técnico
Sarah Gomes – 3º técnico

quinta-feira, 7 de abril de 2022

FORMANDAS NO ANO EM QUE A ESCOLA COMPLETA 95 ANOS✨


Em 1927 foi fundada a Escola de Danças Clássicas do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, atual Escola Estadual de Dança Maria Olenewa (EEDMO), carregando o nome de sua fundadora. Neste ano, completam-se 95 anos de história da mais antiga e tradicional escola de formação em ballet clássico do Brasil, rumo ao seu centenário.

Desde sua abertura, com intuito de formar bailarinos para integrarem o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, a EEDMO contou com profissionais de alta competência em seu corpo docente. Estes formaram e formam técnica e artisticamente outros profissionais que seguiram e seguirão transmitindo o conhecimento adquirido, assim os mestres de hoje ligam seus alunos também aos ensinamentos de seus antigos mestres, preservando a memória da instituição. Ter esse contato com a memória de Maria Olenewa, por meio dos ensinamentos que os atuais docentes da Escola de Dança nos transmitem, é uma forma de resistir com a história do ballet e com o sonho dela de formar artistas bailarinos. Segundo Clarice Lispector “a felicidade aparece para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam em nossa vida”, e nós, como formandas dessa escola, reconhecemos e somos gratas pelos mestres e funcionários que tornaram anos de aprendizagem possíveis. 


A Escola de Dança é responsável pela formação de grandes nomes da dança brasileira, - sejam eles bailarinos, docentes, coreógrafos, historiadores da dança - mas além disso, de pessoas interessadas pela cultura de nosso país. Todos que pela Escola de Dança passaram e passarão são privilegiados de ter esse contato direto e indireto com figuras importantes da cena do ballet clássico. 


Ser formanda da EEDMO é sem dúvida gratificante e integrar este quadro de profissionais formados será uma conquista de extrema alegria. Não importa com que idade se ingressou na escola, os olhos brilharam na primeira aula como aluna assim como brilharão na última, o coração sorriu ao pisar a primeira vez no palco do Theatro Municipal assim como sorrirá quando dançarmos La Barre. Tamanha a importância dessa escola na realização de sonhos. Tamanha a importância dessa escola na história da arte e da dança brasileira.


La Barre - 2019

Nós, formandos de 2022, fazemos parte desses 95 anos de história e isso demandou e demanda comprometimento, disciplina e maturidade, já que temos responsabilidade de fazer jus a mesma. Temos responsabilidade inclusive de dar exemplo aos próximos formandos, através de disciplina, dedicação e amor. É necessário pensar em amor: amor pela arte, amor pela história que nos antecede, amor pelas experiências que vivemos. Vivenciamos um período pandêmico, limitado, em que a escola teve que se adaptar ao novo panorama mundial e seguir protocolos. A presença física se tornou impossível, a carga horária reduzida e o contato virtual e, ainda assim, podemos afirmar que não faltou amor. Nossos mestres nos ampararam com ensinamentos, compreensão, carinho. Nessa trajetória de formação, tivemos e temos desafios, mas o compartilhamento com nossos mestres e colegas de turma torna o esforço e a luta diária possíveis. Vibramos juntos e comemoramos as conquistas. 

Formandos 2022

Celebramos esses 95 anos com a afirmação de que carregaremos os ensinamentos conosco, em nossas memórias, corpos e corações, respeitando e honrando o legado da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa e de nossos mestres. Nossa eterna reverência! O futuro nos espera com toda a incerteza e esperança de algo grandioso. Que seja doce! 

BIBLIOGRAFIA: Escola Estadual de Dança Maria Olenewa 94 anos [recurso eletrônico]: professores que construíram a nossa história / Paulo Melgaço da Silva Júnior, Miguel Alves de Andrade (Org.). – Rio de Janeiro: AMADANÇA, 2021.


Texto: Barbara Ricciotti, Gabriela Mendes e Maria Eduarda Guerra (Formandas 2022)