domingo, 20 de agosto de 2017

Tradição, um elo além do tempo

Tradição, substantivo feminino que tem como significação o ato ou efeito de transmitir ou entregar; transferência. Contextualizando esse conceito à história da EEDMO percebemos então a expansividade e o valor que este termo possui. Como cita o poeta português António Sardinha em uma de suas obras, a tradição não é apenas o passado, mas antes, a "permanência no desenvolvimento, a continuidade”.

A Escola Estadual de Dança Maria Olenewa tem a tradição como a base do tripé sobre o qual se assenta sua filosofia de ensino. A arte do movimento, uma das bases de formação do homem, encontra aqui um método que supera a lógica puramente mecânica de aprendizado, para alcançar a emoção, a expressividade, a significação da dança atrelada ao sentimento de pertencimento e gratidão por ser parte disso.

Pisar diariamente naquele espaço é estabelecer uma comunicação com o passado, que se faz presente contando sua história. História essa que se desenrola dentro de cada sala, ao longo de cada aula. Salas essas repletas de quadros que nos conectam aos nossos sonhos através de uma viagem no tempo, quase que mágica, por meio da homenagem àqueles que hoje são nossas referências. E essa conectividade se exprime a todo momento em cada estrutura física que compõe o prédio no qual se situa nossa escola.

Eliana Caminada como Prelúdio em Les Sylphides

A barra que seguramos hoje é, simbolicamente, a mesma que foi tocada por grandes ícones do ballet clássico nacional como Bertha Rosanova, Tamara Capeller, Márcia Faggioni, Nora Esteves, Eliana Caminada, Eleonora Oliosi, Claudia Mota, Roberta Marquez... todas formadas pela EEDMO. Algumas das autoras dessa história que hoje é escrita por nós.

A sapatilha, que riscou o chão escrevendo no linóleo uma trajetória, não puramente técnica oriunda da execução dos passos, mas poética e atemporal, que vem personificando a tradição que permeia, se funde e transcende a história. A mesma sapatilha que hoje é calçada por cada aluna e assim como no ontem perpetua para além do hoje esse legado, essa poesia silenciosa, como dizia Simonide, que é a dança.

Márcia Faggioni como Mazurka em Les Sylphides

No adágio de cada dia, ao som de um belíssimo noturno de Chopin, o mesmo que compõe Les Sylphide, fantasia de evocação romântica concebida por Fokine que possui uma relação tão intima e simbolicamente valiosa para história da EEDMO. Foi o primeiro ballet a ser encenado pela antiga Escola de Bailados em 1927 e fez parte também da primeira temporada de bailados em 1937 da companhia profissional, sendo este o Corpo de Baile oficial do TMRJ, constituído pelos bailarinos formados pela Escola. Neste ano de 2017, 90 anos depois, a mesma obra foi encenada pela Escola de Dança, numa atmosfera nostálgica e etérea, onde a experiência permanece irredutível a uma descrição.

Apresentação de Les Sylphides pelos alunos da EEDMO no aniversário de 108 anos do TMRJ

O caráter de continuidade é característica inerente a toda história da EEDMO. Essa tradição nos permite apreender que o futuro é o passado que permanente e infindavelmente se constrói. E essa integração, até mesmo paradoxal à nossa racionalidade, é que permite a formação não apenas de bailarinos, mas de artistas. Pois como afirma Nietzsche: “a dança é a única arte em que o próprio artista se torna obra de arte”.

Elenco de Les Sylphides 2017 junto aos professores e ensaiadores: Márcia Faggioni, Teresa Augusta e Paulo Rodrigues, sob direção de Hélio Bejani.


Clara Judithe - 2° Técnico

3 comentários:

  1. Maravilhosa matéria. Expõe muito bem o que significa uma instituição como a Escola Estadual de Danças Maria Olenewa. Um abraço.

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  2. Parabéns, Clara! Lindo artigo! Parabéns Tour en l'air por divulgar e valorizar a Escola

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  3. Belíssima matéria. Acredito em tradição (e muito!!).

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