quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Sob o comando de estrelas:

Sob o comando de estrelas:

O Corpo de Baile do Theatro Municipal tem desde julho deste ano o privilégio de ser dirigido por duas das maiores bailarinas não só de sua história, mas da história do ballet como um todo: Ana Botafogo e Cecília Kerche. Ambas são donas de uma carreira repleta de conquistas e se o ballet brasileiro tem a projeção internacional que tem atualmente e maior visibilidade em seu próprio país, devemos muito a elas. Os títulos e prêmios conquistados pela dupla demonstram tamanha importância de seus trabalhos: Cecília Kerche é embaixadora da Dança pelo Conselho Brasileiro de Dança, pertencente a UNESCO por reconhecimento de suas atuações internacionais e em 2007, recebeu o Título de Embaixadora do Rio de Janeiro através da Secretaria de Turismo e UNIVERCIDADE; Ana Botafogo, entre outros títulos, foi nomeada “Chevalier Dans L’Ordre des Arts et des Lettres” pelo Ministério da Cultura da República Francesa e recebeu do Ministério da Cultura do Brasil a Ordem do Mérito Cultural, em reconhecimento ao seu trabalho prestado a cultura do país.


Apresentemos um pouco mais das duas:

CECÍLIA KERCHE é primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e dançou junto com a Companhia um vasto repertório, incluindo grandes clássicos e obras criadas para o BTM. Estudou com Vera Mayer, Halina Bienarcka e Pedro Kraszucuzuk.

Sua carreira internacional também é extensa: já dançou no Australian Ballet; foi periodicamente artista convidada do Teatro Colón; dançou em todas as companhias tradicionais da Argentina; foi bailarina convidada do Ballet Nacional do Chile na comemoração dos 40 anos desta Companhia e também do English National Ballet, atuando como sênior principal e onde protagonizou a Fada Lilás em grande produção de “A Bela Adormecida”. Cecília também dançou esse papel como bailarina convidada do Connecticut Ballet e, posteriormente, retornou à Companhia para protagonizar Romeu e Julieta, coreografada especialmente para ela por Brett Raphael.

Na Rússia, nossa primeira bailarina teve grande destaque, sendo este país um dos lugares de maior relevância dentro de sua carreira fora do Brasil. Cecília Kerch foi convidada a atuar nas versões completas dos grandes clássicos nas companhias de Odessa, Novosibirsky, Tashkent e Ufá. Depois, ela voltará a Rússia, por convite de Natalia Makarova, para dançar “O Lago dos Cisnes” em Pern. 










Cecilia Kerche


 ANA BOTAFOGO é também Primeira Bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Seus estudos de ballet se deram na cidade onde nasceu e foi criada, o Rio de Janeiro, mas sua carreira profissional tem início na França como integrante do Ballet de Marseile, de Roland Petit. A partir daí, participa de vários festivais pelo mundo: dança em Lausanne (Suiça), Veneza (Itália), Havana (Cuba), entre outros.

Decidindo prosseguir sua carreira no Brasil, Ana Botafogo foi bailarina principal do Teatro Guaíra (Curitiba-PR) e em 1981, ingressa na Companhia do Theatro Municipal do Rio de Janeiro como primeira-bailarina. Apesar disso, dança como convidada em Companhias de grande renome como Saddler’s Wells Royal Ballet (Londres-Inglaterra), Ballet Nacional de Cuba e no Ballet da Ópera de Roma (Itália). Ana Botafogo se destaca por levar sua dança a todos os lugares possíveis, sendo a divulgação dessa arte uma grande preocupação sua. Ela já se apresentou em praticamente todos os Estados Do Brasil, estando por vezes com o BTM e outas com Companhias e Academias de diferentes estados. Além disso, levou para diversas localidades os espetáculos “Ana Botafogo In Concert” e “Três Movimentos do Amor”. Fora isso, Ana ainda ministra algumas palestras visando estimular os jovens bailarinos e fazer despertar neles um encanto por essa tão importante arte.



Ana Botafogo


O Tour em L´air teve o prazer de estar tão próximo dessa dupla e ouvir suas propostas, opiniões e avaliações sobre o Corpo de Baile, sobre a Escola de Dança e muito mais.... 
 
Segue conversa:
 


Tour en L´air - O que a nova direção quer trazer de novo a Companhia? Como vocês pensam o corpo de baile?

Cecília: O nosso maior objetivo é a trazer a unidade desse corpo de baile, resgatar a grande importância que ele tem há 80 anos, que serão cumpridos ano que vem. E, principalmente, que esses bailarinos sintam a responsabilidade que eles têm de passar para próxima geração essa unidade e a nossa tradição.

Tour - Em termos de programação, vocês podem adiantar algum título para 2016?

Cecília: Muito trabalho!

Ana: O que a gente pode adiantar é que, além de muito trabalho, a primeira temporada vai ser a mesma que teremos em outubro. Agora (em outubro) temos uma pequena temporada e no ano que vem nós vamos ter dez, doze espetáculos logo em março. Dessa forma, vamos repetir; assim daremos chances para outros bailarinos dançarem além dos que já estão escalados para essa temporada de agora. Ou seja, vão haver mais oportunidades para mais jovens bailarinos estarem aparecendo dentro do nosso próprio corpo de baile.

Só podemos adiantar essa primeira temporada de março, depois disso estamos acabando de trabalhar e o presidente da Fundação quer anunciar só em novembro, então a gente não pode adiantar.

 
7ª Sinfonia de Beethoven - Temporada do mês de outubro do Corpo de Baile do Theatro Municipal.
 
 
Tour - Quanto a programação desse semestre, qual a expectativa e como estão sendo os preparativos?

Cecília: Os preparativos estão árduos...

Ana: São quatro semanas, dois balés praticamente novos para essa companhia atual. Um já fizemos há oito anos atrás, mas o corpo de baile é muito novo, então a grande maioria nunca dançou.

Cecília: E os trabalhos estão sem intervalo praticamente, todos os dias os bailarinos fazem aula de dez às dez e quarenta e cinco, depois ensaiam das onze horas até as quatro da tarde direto, de uma sala para outra se revezando entre eles nos dois balés. Está muito animado!

 
Débora Ribeiro e Francisco Timbó - Solistas de 7ª Sinfonia, Coreografia de Uwe Scholtz.
 
 
Tour – Como vocês avaliam os concursos de admissão para o Corpo de Baile?

Cecília: Eu, como já fiz parte até de banca examinadora, acho que é um dos mais difíceis... acho que igual, tão difícil quanto ou até um pouco mais é o da Ópera de Paris. Os critérios aqui exigidos são realmente para se selecionar os melhores bailarinos do momento apresentado, daqueles que se candidatam ao posto. É bem exigido e normalmente com uma banca examinadora de nomes significativos para dança, tanto nacional como internacional. É muito válido esse tipo de concurso, audição, que é feito dentro do nosso Theatro porque se procura selecionar o melhor que estiver no momento se apresentando.

Ana: Na realidade a gente precisa muito, e essa é uma das questões para o próximo ano, a gente quer muito que tenha uma audição. Em princípio queríamos uma audição pública para o Theatro e, se não for possível, a gente vai ter uma audição para a contratação de novos bailarinos. Um Corpo de Baile do jeito que é o nosso, que é responsável pelas grandes montagens de grandes clássicos, precisa ter um número mínimo de bailarinos. Estamos com um número muito justo para conseguir fazer os grandes clássicos. Então a gente precisa dar um reforço ao nosso Corpo de Baile. É uma das nossas prioridades, e nós estamos tentando viabilizar, ainda não sabemos quando, mas estamos tentando.

Tour – Muitos bailarinos brasileiros, inclusive os formados pela Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, constroem uma carreira no exterior por falta de oportunidade no mercado nacional. Na opinião de vocês, qual seria uma solução viável para esse problema?

Cecília: Que houvessem mais teatros nesse Brasil a moldes do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde tivesse Ballet, Coro e Orquestra. Nós precisamos de mais campos de trabalho para poder absorver esses grandes talentos que o nosso povo produz, pois nós somos um povo dançante, isso não resta dúvida... de físico muito bonito também, só que com pouquíssimas áreas de trabalho. Temos praticamente só oito companhias oficiais nesse país. Na Alemanha são 700 teatros num país que é do tamanho de São Paulo e no Brasil inteiro temos quase 700 teatros. Desses quase 700, só o Theatro Municipal tem esse formato internacional como é o Kirov, o Bolshoi, a Ópera de Paris... enfim, precisamos de mais companhias dentro de teatros mesmo, porque só se faz tradição assim. 


Cecília Kerche Primeira Bailarina e atual Diretora do Corpo de Baile do TMRJ.


 Tour - Qual a opinião de vocês a respeito da ideia de uma instituição formadora, a transformação da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa em Escola de Artes e Técnicas?

Cecília: Desde que seja vinculada ao Theatro Municipal, é muito importante. Agora, essa Escola tem que ser produtora de bailarinos que venham servir o Corpo de Baile, que tenham uma formação de excelência, com todos os requisitos básicos para a instrução de um bailarino: aulas de técnica de balé clássico, de música, tem que ter aulas de pas de deux, aulas de variações, de dança à caráter... realmente formar o bailarino para o mercado de trabalho.

Tour - A Escola de Dança tem se mostrado um grande celeiro de bailarinos, dos quais grande parte abastecem o corpo de baile. Qual a importância do Theatro possuir uma instituição formativa?

Ana: Isso é muito importante para a gente, precisamos que a Escola seja realmente um celeiro pro nosso Corpo de Baile, isso seria o ideal. Muitas vezes temos uma defasagem e somos obrigadas a pegar bailarinos de fora, por que às vezes os bailarinos da Escola ainda não estão formados para que a gente possa pegar. Por isso precisamos que essa Escola seja cada vez mais rígida nos seus critérios, para que mais bailarinos possam abastecer o nosso Corpo de Baile. Mas eu acho que é de extrema importância. Algo que pensamos para o futuro, mas ainda não fizemos, é ter uma conversa, uma ligação mais próxima entre direção do Ballet do Theatro Municipal e a direção da Escola, para que a gente possa trabalhar em conjunto e possa ir usando esses elementos dentro das possíveis temporadas do Theatro Municipal como um estágio, como uma maneira dos alunos poderem ascender e almeijar uma carreira profissional.


Ana Botafogo Primeira Bailarina e atual Diretora do Corpo de Baile do Theatro Municipal.


Tour - Alguns de nossos alunos e alunas participaram ou vem participando das temporadas do ballet juntamente com o corpo de baile. Qual é a importância, segundo vocês, desse contato para a formação deles?

Ana: Acho que é importantíssimo. Sempre que um aluno tem contato com profissionais, não só eu acho que ele aprende como ele pode almeijar a chegar num parâmetro, para esse aluno saber onde ele pode chegar e onde ele quer chegar. Então eu acho que esse contato, e eu vou falar enquanto aluna de balé, e não fui da Escola de dança, era um sonho sempre estar perto de bailarinos profissionais, de aprender, de ver como amarrava a sapatilha, como fazia o coque... Eu acho que o aluno tem sempre que aprender com o profissional e, claro, o aluno não tem esse dia a dia de ensaios como é em uma companhia profissional e isso acaba sendo produtivo para o próprio aluno.

Cecília: Eu também acho importantíssimo que tenha esse período de estágio, com o aluno aprendendo a se tornar um profissional com quem já tem essa trilha toda caminhada ao longo da sua carreira, que é o bailarino profissional, que chegou num corpo de baile e por aí ascendeu até primeiro bailarino. 
 
Ana: Aliás, também para esse bailarino estudante saber se é isso que ele quer, porque muitas vezes na Escola é tudo muito bonitinho, dança no final do ano, dança um pouquinho aqui, tá tudo bem... mas na hora que chega no dia a dia, de 6, 8 horas de ensaio por dia, pode ser que esse aluno, que às vezes é até um talento, desanime, não queira exatamente essa vida. É uma vida que, é delicioso estar no palco, mas para se chegar a estar no palco é uma vida de muita dedicação e de muitas renúncias. É isso exatamente que o aluno bailarino quer? Então, é desse contato com os profissionais, uma temporada profissional, eu acho que é uma possibilidade desse aluno decidir se é exatamente isso que ele quer.
 
Equipe Tour En L'Air e as novas diretoras do Corpo de Baile Cecília Kerche e Ana Botafogo.
 
 
Foi uma indescritível emoção para o Tour entrevistar duas das maiores bailarinas brasileiras, que são grande fonte de inspiração e motivação para qualquer bailarino: Obrigado à dupla por nos receberem com tanto carinho!
 
 
Giulia Rossi e Maria Luiza Patury

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