segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Saúde do Corpo que dança– Fernando Zikan

Saúde do Corpo que dança– Fernando Zikan


A rotina de um bailarino é pesada e muito regrada. Nessa rotina se inclui muitas aulas de ballet clássico e outras que visam à melhora do condicionamento físico (Pilates, profilaxia, Yoga, ginástica, musculação, jump). Podemos então dizer que, hoje, um bailarino não é apenas um artista, mas também um “atleta”. E como todo “atleta”, precisa de um acompanhamento muito especializado no que diz respeito à alimentação, treinamento e tratamento (de possíveis lesões). Porém, o que acontece é que faltam profissionais especializados nessa área e nem toda Cia de Ballet ou Escola de Ballet tem um profissional à disposição para atender seus bailarinos de acordo com as necessidades da atividade.

Assim como um atleta não pode ficar muito tempo fora dos treinos para se recuperar de lesões (pois se perde tempo valioso de treino, o que interfere no resultado final), um bailarino também não pode, pois a competitividade no mercado de trabalho está cada vez maior e um mês fora de cena é o suficiente para se perder o papel tão sonhado. Por isso a cada dia mais uma procura por formas de prevenir lesões e tratamentos cada vez mais eficazes quanto ao resultado e o tempo de cura. Nesse ponto é que entra a fisioterapia como grande aliada da nova geração de bailarinos de alta performance.

Os avanços tecnológicos na área da fisioterapia tem garantido cada vez mais a saúde e a segurança para os bailarinos, que se sentem mais confortáveis para continuarem a trabalhar com força em busca de uma técnica cada vez mais refinada. Ainda há um déficit de profissionais especializados, mas a demanda é grande e aos poucos a oferta vai aumentando. As principais Cias de dança percebem, hoje, que é muito mais fácil e barato investir no tratamento de seus bailarinos lesionados do que no treinamento de substitutos e, por isso, que a presença de fisioterapeutas especializados vem sendo cada vez mais requerida nas Cias.

O Teatro Municipal do Rio de Janeiro, a Cia de dança mais antiga, tradicional e importante do país, já entende essa necessidade e conta a 10 anos com um profissional de alta qualidade para o tratamento de seus bailarinos, o Prof. Dr. Fernando Zikan (Chefe do Departamento de Fisioterapia da UFRJ, Mestre e Doutor pela UFRJ com tese relacionada à Ballet Clássico e Fisioterapia, professor de Cursos de Pós-graduação em Fisioterapia e Dança por todo Brasil e pesquisador atuando no Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro). O Tour em l’air chamou-o para uma conversa e ele com muita diligência nos contou um pouco dessa nova realidade.


Professor e Fisioterapeuta- Fernando Zikan



Fernando Zikan - Fisioterapeuta

Tour: Zikan, qual a principal função do fisioterapeuta em uma Cia profissional como a do Theatro Municipal do Rio de Janeiro?

Fernando Zikan: A atividade da fisioterapia em um Cia de Ballet clássico deve estar presente em todos os momentos de atividade deste grupo. As lesões podem ocorrer a qualquer momento, desta forma em aulas, ensaios, preparos, os bailarinos devem contar com o apoio de um fisioterapeuta atuando em três níveis: promoção da saúde (orientando e educando os bailarinos em relação a sua prática corporal), prevenção de doenças (orientado e intervindo para que estes não se lesionem) e reabilitação (na medida que exista alguma lesão ou incapacidade o fisioterapeuta possa atuar de maneira curativa), desde a sala de aula de balé até a sala de fisioterapia.



Tour: De que modo o fisioterapeuta pode ajudar no desenvolvimento do bailarino?

Zikan: A dança de um modo geral, e o balé em específico, é uma atividade corporal que exige muito do corpo de quem a pratica, tanto do ponto de vista físico como mental. Para isto o bailarino precisa se preparar para as atividades que irá desenvolver. Uma vez orientado de como deve executar suas atividades (com que frequência, com que cuidado, em quais amplitudes, em que posicionamentos, etc.) este bailarino estará melhor preparado para alcançar seus objetivos. Orientações em relação á prática de atividade física, alongamentos, fortalecimentos, correção de posicionamentos viciosos e posturas inadequadas são maneiras de atuarmos para que os bailarinos possam minimizar suas chances de se lesionarem e interromperem suas carreiras de forma precoce.

Tour: Quais as principais lesões que os bailarinos e bailarinas mais sofrem em função do trabalho? 

Zikan: De que modo essas lesões poderiam ser evitadas?
De acordo com um levantamento feito em minha dissertação de Mestrado em 2006 com a Cia do Theatro Municipal do RJ e em 2011 com alunos da Escola Maria Olenewa, Escola do Teatro Bolshoi no Brasil e Centro de Dança Rio, as principais lesões apresentadas são musculoesqueléticas provenientes das instabilidades articulares. Pela necessidade de fazer movimentos em grandes amplitudes as articulações dos bailarinos tornam-se instáveis do ponto de vista osteoarticular (frouxidão capsular e ligamentar) o que necessita para isto grande trabalho de força para conseguir estabilizar estas articulações e evitar traumas/lesões. Desta forma as lesões mais frequentes por este desequilíbrio entre mobilidade e força são as entorses, luxações, tendinites e os quadros de dores oriundos também deste desequilíbrio. As dores são mais frequentes nas mulheres que nos homens e estão presentes com maior frequência na coluna lombar, nos joelhos e pés.
Como dito anteriormente o que causa estas lesões são os desequilíbrios entre força e mobilidade, desta forma para evitarmos estas lesões devemos ter um cuidado muito grande nos ganhos de amplitudes articulares, ser mais móvel é ótimo para o balé, mas tem um preço alto a se pagar e para isto o bailarino deve fazer aulas regulares para manter seus músculos fortes, o que não basta. Este fortalecimento muscular deve ser implementado com prática de exercícios físicos regulares que potencializem a estabilidade articular e o controle corporal. Atualmente esta prática tem sido bem resolvida com um trabalho específico e correto, com técnicas específicas e orientadas por um profissional capaz para isto como o Pilates, Musculação com Treinamento Funcional e técnicas de fortalecimento de Cadeias Musculares.




"Uma companhia que possui profissionais orientando os bailarinos desde sua formação até sua vida profissional, tem grandes chances de ter um grupo de bailarinos mais capazes e bem orientados, daí a grande importância deste profissional neste cenário".



Luan Limoeiro - 2° Técnico

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