domingo, 16 de agosto de 2015

Por trás da cena - Leila Melo

Um trabalho de mãe para filha...

Todos nós já saímos de um teatro e ouvimos alguém comentar sobre os belos figurinos que estavam em cena. Porém, ninguém imagina quem são os profissionais que cuidam para que os figurinos estejam impecáveis. As responsáveis por esse trabalho quase artesanal são as camareiras teatrais. No Theatro Municipal temos a honra de ter Leila Melo comandando o time dessas profissionais tão pouco reconhecidas que são as camareiras. Leila e seu time não medem esforços para que os espetáculos sejam cada vez mais belos.
O Tour En L'Air, em seu esforço de dar o devido valor a todos os profissionais que se desdobram para que o público assista o melhor espetáculo possível, preparou uma entrevista com Leila Melo, afim de conhecer um pouco mais sobre essa difícil e tão importante tarefa que é ser camareira e ao mesmo tempo prestar a devida homenagem a essas verdadeiras "mães" que amparam os artistas fora de cena.

Leila Melo

Segue nossa entrevista:

Tour: Desde quando você trabalha no TMRJ e quando passou a ser chefe das camareiras?

Minha mãe foi chefe das camareiras durante 40 anos. Quando minha mãe faleceu em 1978, eu vim pra cá e fui convidada pra chefiar o setor.

Tour: Como surgiu essa profissão na sua vida?

Eu acho que é a vida... minha profissão na realidade não era essa, eu era contadora e me formei em ciências contáveis, fui professora de matemática, dancei... Fiz uma série de coisas. 


Leila no palco do TMRJ

Tour: Quais os momentos mais marcantes que você já viveu dentro do Theatro?

O aniversário de 100 anos do Theatro foi muito emocionante. Eu acho que cada trabalho que você termina de fazer, que você completa é uma realização. Então escolher um evento em especial é difícil.


Tour: Como começa a preparação dos camarins?

A partir do momento que o figurinista nos libera os figurinos, nós vemos qual bailarino vai ficar com que figurino e começa-se a preparação. Temos que passar cada peça, ver se tem que fazer algum reparo, fazer a divisão deles e finalmente a distribuição

Tour: Conte-nos um pouco mais do dia a dia de uma camareira.

Uma camareira passa, paparica vocês, faz dengo, às vezes vocês estão tristes, às vezes estão alegres demais, chama a atenção, puxa a orelha, cuida do figurino, chama a atenção de vocês se vocês sentam no chão com ele, quando comem ou tomam café porque tem que ter maior cuidado. Camareira é um pouco mãe e um pouco babá.

Leila no camarim do TMRJ

Tour: Quais são as maiores dificuldades da profissão?

Talvez o ego de alguns artistas, mas isso é uma coisa que se contorna com o tempo.

Tour: Existe uma desvalorização cultural das camareiras, copeiras, profissionais de serviços gerais. O que você poderia dizer sobre isso?

Existe a copeira de hotel, a camareira de hotel e nós somos um serviço elitizado. As pessoas confundem, camareira de hotel é uma coisa é quem arruma cama, a camareira de teatro é quem atende o artista diretamente. É totalmente diverso, inclusive a nomenclatura é camareira teatral. Como estão englobadas também as profissionais de serviços gerais, copeiras e camareiras eu acho que existe sim um preconceito, mas não deixa de ser um serviço gratificante e honesto, uma maneira da pessoa se manter. Eu acho que não deveria haver esta divisão, mas a camareira teatral tem um patamar acima porque normalmente tem que falar algum outro idioma, tem que saber lidar com artista, tem que fazer cursos. Na minha esquipe por exemplo todo mundo é formado, tem o segundo grau no mínimo, então realmente o serviço da camareira teatral é bem diferenciado.

Tour: Como é trabalhar nas montagens dos ballets do Theatro?

É bom, mas tenso até a estreia. Até que você veja que vai dar tudo certo. Depois tudo correndo bem, como sempre procuramos fazer, fica tranquilo. 

Tour: Qual a melhor parte da profissão?

O dever realizado, o espetáculo quando estreia e que tudo dá certo. Acho que não tem coisa melhor do que isso. 

Da esquerda para direita: Rachel Ribeiro, Camareira, Deborah Ribeiro, Leila Melo, Élida Brum

Nosso muito obrigado à Leila e toda sua esquipe por cuidarem de nós muito antes dos espetáculos estrearem. Todo tempo dedicado é recompensando ao fim de um espetáculo e os aplausos recebidos pelos bailarinos também são para vocês.

Jéssica Ramos

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